Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 079: O visível e o in(di)visível: ciências, conhecimentos e produções de mundos.
Epistemologias e territórios em disputa no alto rio Iaco
Ao longo dos últimos cem anos pelo menos dois modos de fazer território se enfrentam nas margens do alto
rio Iaco, afluente da margem direita do alto rio Purus: de um lado, as iniciativas para demarcar terras e
seringais, descrever e fixar grupos e lugares, territorializar conjuntos de pessoas, estabelecer direitos e
prerrogativas quanto aos modos de produzir e de viver, e consolidar o domínio sobre as principais vias de
comunicação; de outro, as viagens pelos varadouros que conectam as cabeceiras dos rios, viagens de canoa
para trocar coisas e fazer festas junto a coletivos distantes, coletivos que se organizavam ao redor de
pessoas maiores ou antigas, os grandes sogros e sogras que abriram lugares, criaram seus filhos, que
periodicamente saiam em viagem para visitar parentes distantes. Esse contraste heurístico entre duas formas
de territorialidade pode ser pensado à luz de uma comparação entre os relatos sobre a invasão do alto rio
Iaco, aqueles registrados no arquivo colonial e aqueles que são narrados pelos wutsrukatenni manxineru (os
velhos que conhecem as histórias). Uma transformação interessante desse contraste por ser elaborada também
quando se comparam os recentes processos de construção de empreendimentos voltados para a comercialização
futura de créditos de carbono que lançam mão de técnicas de construção de inventários florestais e do uso
extensivo de tecnologias de georreferenciamento; e a mobilização pela identificação, delimitação e
demarcação da Terra Indígena Riozinho do Iaco, que procura fazer o Estado reconhecer a ocupação tradicional
de um território. Os modos de conhecer e descrever são formas de estabilizar terras e coletivos que
constituem territórios sobrepostos e em disputa. A comunicação proposta pretende refletir sobre a natureza e
os efeitos destas diferenças entre as formas de conhecer e entre as formas de ocupar a terra.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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