Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 077: Novas perspectivas antropológicas a partir de África: caminhos para reconfigurações autônomas no contexto sul-sul
Criaças na rua e crianças de rua: entre ações & representações das enfant talibé e o trabalho do
Chemin du Futur
O fenômeno das enfant talibés - ou crianças alunas/discípulas em livre tradução - faz parte da história
e do cotidiano senegalês, estando presente em livros de literatura, nos discursos de políticos se
posicionando contra a "mendicância infantil", nas propagandas estatais, assim como nas propagandas e ações
desenvolvidas por agências humanitárias e organizações não governamentais. O do Chemin du Futur, instituição
fundada há aproximadamente 12 anos por brasileiros, se encaixa neste último grupo. Ao longo de todo este
tempo a instuição passou por diversas fases, incluindo a possibilidade de ter de fechar devido a falta de
verbas para que o trabalho continuasse. Atualmente, após ajustes, novas parcerias e redirecionamentos, o
Chemin du Futur segue em sua tarefa de procurar, acolher em sua sede, cadastrar e acompanhar meninos, entre
crianças e adolescentes, que se encontravam nas ruas da capital senegalesa, muitos dos quais haviam fugido
de Daaras. Longe de questionar a relevância do trabalho desenvolvido pretendo apresentar uma análise que
percorra tanto noções mais gerais sobre modernidade, colonialismo contemporâneo e ajuda humanitária,
relacionando com as ações desenvolvidas pelos integrantes do Chemin du Futur, suas instituições parceiras e
investidores. A questão das enfant talibés, os marabus - professores do Corão - e a presença das Daaras -
escolas corânicas - é uma realidade complexa, presente fortemente no Senegal, mas também em outros países da
África Ocidental, como Gâmbia e Guiné-Bissau. Como tal, é necessário levar em consideração que se manifesta
de formas diversas, por vezes contrastantes. Ainda que o Chemin du Futur reconheça tal multiplicidade, é
percepetível que suas açoes caminham juntas a representações que fazem côro com outras percpeções
marcadamente ocidentais, as quais apresentam as crianças, por vezes enviadas por suas famílias para viverem
nas Daaras, a "escravidão moderna". Dessa forma, pretende-se por meio desta comunicação, compreender como, e
se, o Chemin du Futur compactua com esta perspectiva, e como isso pode se relacionar com uma percpeção
homogêna não apenas do fenômeno, mas da forma como o chamado Ocidente moderno trata todo o vasto continete
africano.