Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 062: Fronteiras e fabulações: antropologias especulativas e experimentos etnográficos
Sonhar com pés no chão: escrevivências dissidentes por uma antropologia contra-colonial
A antropologia, em especial, tem sua formação marcada por uma fixação na produção textual e na
autoridade etnográfica. No entanto, essa formação curricular invisibiliza incisivamente as antropologias dos
Outros e suas múltiplas formas de expressão. Zora Hurston, Lélia Gonzalez e Mariza Corrêa, já inovaram em
suas respectivas épocas, elas partem de um corpo vivo para produzir conhecimentos críticos a partir da carne
e espaço que ocupam. O lugar do "outro" é para elas uma perspectiva privilegiada sobre a colonialidade,
utilizam essa percepção para fazer o que Viviane Vergueiro chama de reexame integral da colonialidade, ou
seja, destrincham as violências <> resistências cotidianas em casa, rua, universidade, trabalho,
escola, hospitais, etc. Nesse sentido, buscamos traçar e partilhar os caminhos já traçados por intelectuais
dissidentes, de maneira coletiva, não apenas as que vieram antes, sobretudo com as que estabelecem uma
relação de intimidade e de companheirismo diário. O coletivizando é um grupo de trocas de estratégias de
pesquisa e vida, sobre a orietação de Loredana Ribeiro onde nos envolvemos com a crítica feminista à ciência
e somos estimuladas a criatividade de outas maneiras de fazer pesquisa. Antes de companheiras intelectuais,
somos amigas, guardamos segredos e contamos umas pras outras, o mel e o fel, de estar vivas.
A proposta deste trabalho é socializar pesquisas de estudantes da UFPel desenvolvidas a partir do grupo, em
especial, seu ponto de encontro: a escrita encarnada. A autoetnografia associada à escrevivência de
Conceição Evaristo, tem se configurado com um produto e processo etnográfico possível para a construção de
conhecimento encarnado. Conhecimento que é gestado no interior do cotidiano que situa a construção
sócio-histórica das identidades coloniais e se move para além delas, especulando maneiras criativas de
expressão de vida, cura e afetividade. Nós utilizamos a metodologia-epistemologia para abordar temas como
abuso sexual, racialização e racismo, transgeneridade, saúde metal e retomadas. Isabella, deselveu uma
pesquisa autoetnográfica sobre a formação em Antropologia, abuso sexual e racialização. Wemi, formulou uma
pesquisa autoetnográfica sobre o processo coletivo e múltiplo de ser trans. Raiana, escreveu uma tese
autoetnográfica sobre os processos de adoecimento e cura. Leticia, desenvolveu uma pesquisa a/r/tografica
sobre a formação em Artes Visuais Licenciatura e suas investidas de transgressão da história única em sua
prática docente. Cada uma a partir de sua experiência material fábula a si mesma, por meio da narração
constrói um mundo possível de enunciação da dor e da cura. Assim, buscamos refletir sobre as possibilidades
expressivas da antropologia, costurando arte, poesias e conhecimentos ancestrais.