Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 078: O campo biográfico-narrativo e a prática etnográfica: diálogos possíveis
Memórias narradas: A história de uma mulher migrante do Norte de Minas
Este trabalho trata-se de uma breve reflexão da pesquisa que desenvolvi durante a graduação, em que
busco me aprofundar na história de vida de uma mulher migrante no Norte de Minas Gerais, Dona Raimunda, e
como esse relato oral possibilita uma compreensão acerca do fenômeno da migração feminina interna no Brasil
com a finalidade do trabalho doméstico. Pretendo compartilhar a análise da história de vida de uma mulher
migrante do Norte de Minas Gerais, que experienciou o fenômeno da migração e suas implicações tanto
objetivas como subjetivas, produto dos trabalhos desenvolvidos nas cidades e comunidades norte-mineiras que
se encontram próximas ou ao longo do Rio São Francisco, cenário este que foi palco para os romances
Roseanos, é então, o lugar onde Os sujeitos são os homens e as mulheres de beira de rio e beira de sertão
que vivem sua vida junto a família nuclear (Paula, 2009). Aqui, exploro a importância da memória e do relato
de vida como ferramentas epistemológicas para a observações socioantropológicas dos estudos migratórios.
Esses processos migratórios desempenham um papel importante para transformações do meio social, tudo se
inicia com a partida, os caminhos, a chegada, a permanência e também a volta, constatando que na migração
existe um ciclo conforme aponta Maria Aparecida de Menezes (2012), dando sentido ao aspecto de mobilidade ou
fluxo ao fenômeno. A vulnerabilidade social e econômica, resultantes do processo de desenvolvimento
capitalista no campo, contribuem para a intensificação da Cultura do Migrar, como aponta Paula (2009), onde
a questão agrária e os interesses dos ruralistas criam espaços de conflitos, expulsões e partidas. Em meio a
Cultura do Migrar, destaco a figura feminina para a compreensão do processo migratório no Norte de Minas, e
também o impacto da migração sobre a vida social e pessoal da mulher do campo. A migração precoce de meninas
que saem da roça para assumir o trabalho dos afazeres domésticos de famílias de classe média nos centros
urbanos é recorrente na região do norte de Minas Gerais. Para a pesquisa optei pelo uso de técnicas
etnográficas, entrevistas semi-estruturadas, e uma história de vida para elucidar suas memórias como uma
fonte de compreensões para os debates e estudos da migração interna. A memória, trata-se de [...] uma
evocação do passado. É a capacidade humana para reter e guardar o tempo que se foi (2000, p.125), para Dona
Raimunda, lembranças relatam a vida e o cotidiano de uma menina que além de cuidar dos afazeres domésticos
em sua casa, constatando a perpetuação dos papéis de gênero condicionando o tipo de trabalho ao qual meninas
e mulheres que migram de regiões afetadas pela vulnerabilidade social.