ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 088: Processos e histórias transfronteiriças de coletividades em movimento - Os desafios da mobilidade indígena na atualidade..
Fronteiras, Mobilidade e Defesa do Território do povo Ka’apor
Na sua língua do tronco Tupi, a palavra Ka’apor, significa gente que mora na mata”. Esta TI compreende parte dos municípios de Araguanã, Centro Guilherme, Centro Novo do Maranhão, Maranhãozinho, Nova Olinda do Maranhão, Santa Luzia do Paruá e Zé Doca, perfazendo uma extensão de 5.304 km2. Os Ka’apor dividem esse território com outros povos, estabelecendo relações próximas como casamentos interétnicos e também de conflito, são eles os Tembé, Awa-Guajá, (também de língua Tupi) e os Timbira (de língua Jê). Ao longo dos tempos, toda esta região tem sido cenário de conflitos interétnicos provocados sempre por invasões por não indígenas. Ainda no século XIX, esses conflitos estavam vinculados à intensificação não controlada de economias extrativas, tais como garimpo de metais preciosos. Cabe ressaltar que a esta atividade extrativista soma-se a sempre presente exploração madeireira e pecuária. Em 1873 estes episódios forçaram o deslocamento dos Ka’apor da região do rio Piriá, onde viviam, para a região do rio Gurupi onde estão atualmente. O povo Ka’apor se organizou em uma forte Associação presidida pelo cacique geral Iracadju, Associação Ka’apor Ta Hury do Rio Gurupi que bravamente resistindo às constantes invasões, sobretudo através de duas táticas: a criação de aldeias em pontos estratégicos e a criação do projeto guardiões da floresta (uma equipe treinada e equipada para defender seu território de invasores. Com ações periódicas esses guardiões passam vários dias na mata limpando suas fronteiras, destruindo pontes clandestinas e sempre em contato com a Policia Federal e FUNAI. Na fala de Iracadju: Os guardiões foram formados assim. Nós Ka’apor, nós jovens... não é só nós jovens. Os mais velhos vinham fazendo monitoramento do seu território. Desde quando vai caçar antigamente, levava toda a família, já faz parte de monitoramento. Nós só mudamos o nome. Hoje os Guardiões. Só mudamos a atividade também. Por exemplo, antigamente Ka’apor não fazia picada grande. Porque? Porque não tinha invasor, não tinha caraí perto. Eles caçavam normal. A família, um mês caçando, chegava com um bocado de caça. Então só mudamos o nome. Porque hoje nós criamos guardião? Guardião da floresta. Assim como sou coordenador geral da Associação, eu cuido mais da parte de gestão da Associação, projeto... alguns recursos... quando a gente faz o plano, porque os Guardiões já vinham trabalhando. Nós vínhamos trabalhando no monitoramento. Isso sem apoio. Sem combustível, sem carro, sem drone, sem câmera, sem nada. Agora estamos equipados”, Este artigo trata destas principais táticas e tentativas de resistência e monitoramento de seu território.