Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 088: Processos e histórias transfronteiriças de coletividades em movimento - Os desafios da mobilidade indígena na atualidade..
Fronteiras, Mobilidade e Defesa do Território do povo Kaapor
Na sua língua do tronco Tupi, a palavra Kaapor, significa gente que mora na mata. Esta TI compreende
parte dos municípios de Araguanã, Centro Guilherme, Centro Novo do Maranhão, Maranhãozinho, Nova Olinda do
Maranhão, Santa Luzia do Paruá e Zé Doca, perfazendo uma extensão de 5.304 km2. Os Kaapor dividem esse
território com outros povos, estabelecendo relações próximas como casamentos interétnicos e também de
conflito, são eles os Tembé, Awa-Guajá, (também de língua Tupi) e os Timbira (de língua Jê).
Ao longo dos tempos, toda esta região tem sido cenário de conflitos interétnicos provocados sempre por
invasões por não indígenas. Ainda no século XIX, esses conflitos estavam vinculados à intensificação não
controlada de economias extrativas, tais como garimpo de metais preciosos. Cabe ressaltar que a esta
atividade extrativista soma-se a sempre presente exploração madeireira e pecuária. Em 1873 estes episódios
forçaram o deslocamento dos Kaapor da região do rio Piriá, onde viviam, para a região do rio Gurupi onde
estão atualmente.
O povo Kaapor se organizou em uma forte Associação presidida pelo cacique geral Iracadju, Associação
Kaapor Ta Hury do Rio Gurupi que bravamente resistindo às constantes invasões, sobretudo através de duas
táticas: a criação de aldeias em pontos estratégicos e a criação do projeto guardiões da floresta (uma
equipe treinada e equipada para defender seu território de invasores. Com ações periódicas esses guardiões
passam vários dias na mata limpando suas fronteiras, destruindo pontes clandestinas e sempre em contato com
a Policia Federal e FUNAI.
Na fala de Iracadju: Os guardiões foram formados assim. Nós Kaapor, nós jovens... não é só nós jovens. Os
mais velhos vinham fazendo monitoramento do seu território. Desde quando vai caçar antigamente, levava toda
a família, já faz parte de monitoramento. Nós só mudamos o nome. Hoje os Guardiões. Só mudamos a atividade
também. Por exemplo, antigamente Kaapor não fazia picada grande. Porque? Porque não tinha invasor, não
tinha caraí perto. Eles caçavam normal. A família, um mês caçando, chegava com um bocado de caça. Então só
mudamos o nome. Porque hoje nós criamos guardião? Guardião da floresta. Assim como sou coordenador geral da
Associação, eu cuido mais da parte de gestão da Associação, projeto... alguns recursos... quando a gente faz
o plano, porque os Guardiões já vinham trabalhando. Nós vínhamos trabalhando no monitoramento. Isso sem
apoio. Sem combustível, sem carro, sem drone, sem câmera, sem nada. Agora estamos equipados, Este artigo
trata destas principais táticas e tentativas de resistência e monitoramento de seu território.