ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 104: Visualidades Indígenas
Náw ibiy e suas imagens: reflexões sobre o fazer audiovisual Hupd’äh e a noção de bem viver
Esta apresentação propõe compartilhar algumas notas preliminares sobre o fazer audiovisual de jovens Hupd’äh das comunidades do Médio Tiquié, na região do Alto Rio Negro (AM). A partir da realização de oficinas de audiovisual destinadas a jovens hup, pretende-se investigar os sentidos que eles atribuem à produção de imagens fílmicas e fotográficas e quais as possibilidades do uso destas linguagens para refletir sobre as transformações recentes vividas pelos Hupd’äh, os graves problemas enfrentados atualmente pelos jovens nas suas comunidades e no meio urbano e como ambos se articulam com a noção hup de bem viver.. Os Hupd’äh habitam tradicionalmente a região interfluvial do Rio Tiquié e Rio Papuri, afluentes da margem esquerda do Rio Uaupés, na fronteira entre o Brasil e a Colômbia. Estão distribuídos atualmente em aproximadamente 35 comunidades (grupos locais) e o último censo aponta para uma população de 2.634 indivíduos. Os Hupd'äh estão entre alguns povos do conjunto que, ainda hoje, vem sendo agrupados sob o termo familia linguistica Maku”. A inclusão como beneficiários de políticas públicas de redistribuição de renda e de assistência social tem impactado os Hupd’äh de forma alarmante, tendo como graves consequências diversas violações de direitos humanos. Conforme o acesso a benefícios sociais tornou-se mais abrangente, nota-se um aumento no deslocamento de famílias hup de suas comunidades para o perímetro urbano, sujeitando os Hupd’äh a uma crítica situação de vulnerabilidade social. O preconceito étnico-racial, a exploração enquanto força de trabalho e a desestabilização de um senso de pertencimento étnico resultante do contraste entre diferentes dinâmicas sociais empurram os jovens hupd’äh para um processo de vulnerabilização social que tem impactado consideravelmente as comunidades hup. Neste contexto foram realizadas a partir de julho de 2023 oficinas de audiovisual com jovens Hupd’äh, parte de uma série de ações idealizadas por coletivos e organizações que atuam junto aos hup, visando dirimir as consequências do contexto apresentado acima entre os jovens. As oficinas estavam inseridas em um contexto mais amplo que tem por objetivo a reflexão, discussão e promoção do bem viver entre os jovens, envolvendo seus participantes na prevenção de problemas relacionados à saúde, principalmente no tocante ao suicídio. A experiência desta primeira oficina desdobrou-se em uma pesquisa de doutorado em andamento que propõe debruçar-se sobre as especificidades de um modo próprio de produção de imagens, tendo como um dos seus objetivos pensar conjuntamente com os interlocutores hupd’äh os possíveis usos do audiovisual como forma de fortalecimento de ações coletivas voltadas à noção hup de náw ibiy (“bem viver”).