ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 023: Antropologia e saúde mental: sofrimento social e (micro)políticas emancipatórias
A saúde mental de quem custodia: elementos para pensar a relação entre trabalho prisional e o adoecimento mental dos policiais penais
Os policiais penais atuam na execução penal, sendo este um trabalho desenvolvido preponderantemente no interior das prisões e longe da visibilidade social. É uma função que se firma na rotina prisional, pelo desenvolvimento de atividades que visam à punição e a ressocialização, com contato direto e prologado com pessoas indesejáveis socialmente. O desempenho desta função é diretamente influenciado pelas condições estruturais das prisões brasileiras que, historicamente, são reconhecidas pela superlotação e insuficientes condições materiais de vida. Os policiais penais são responsáveis diretos pela seleção, remoção, vigilância e movimentação dos presos de suas celas para atendimento de técnicos (médicos, sociais, psicológicos, jurídicos, etc.); para transferências externas (por exemplo, para hospitais, velórios, audiências judiciais); e para participação em oficinas e educação escolar dentro da prisão. A complexidade do trabalho envolvido em uma prisão e a quantidade insuficiente de profissionais em serviço resulta em uma sobrecarga de trabalho para os policiais penais. Isso, por sua vez, causa; fadiga, dor física e distúrbios emocionais e psicológicos entre policiais penais brasileiros. O objetivo deste artigo é compreender a relação entre as dinâmicas do trabalho prisional e a saúde mental dos policiais penais, pensado a precarização, periculosidade e a insalubridade como fatores desenvolvedores de adoecimento mental nos trabalhadores da segurança prisional. Trata-se de um texto que resulta de uma pesquisa pós-doutoral de natureza quali/quanti ampla, desenvolvida em meio aos policiais penais do Estado do Ceará. Utilizamos entrevistas, aplicação de questionário e observação participante como instrumentos para a captura dos dados. O conjunto dos dados analisados nos permite perceber que a natureza estressante e perigosa da função atrelada as difíceis condições de trabalho, a exaustividade dos plantões e a desvalorização social contribuem para o adoecimento psíquico dos policiais penais, impactando em altos índices de afastamento laborais por adoecimento mental, na insatisfação com o trabalho e em efeitos negativos na qualidade de vida desses profissionais. Todo o contexto de adoecimento dos policiais penais cearenses tem relação direta com as alterações na política prisional, pela imposição da autoridade do Estado no controle das dinâmicas cotidianas entre presos, exigindo mais esforço desses profissionais na aplicação de um conjunto de medidas para conter a expansão das facções criminais que avançam nos territórios, principalmente em prisões e periferias, impondo regimes de governança criminal que alteram não apenas as relações que permeiam as interações entre pessoas envolvidas com o crime, mas também entre agentes de Estado e a população em geral.