ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Trabalho para Mesa Redonda
MR 29: Etnografias do digital: tecnossocialidade, biossocialidade ou quando códigos binários encontram códigos genéticos na antropologia
Novas formas de exposição e aprimoramento de si nas redes sociais: os diários de cirurgia” como produção de transformações corporais e subjetivas
“Diários de cirurgia” são vídeos que visam narrar o processo de busca, realização e recuperação de procedimentos cirúrgicos diversos, sobretudo aqueles que visam alterar os contornos corporais. Estão presentes em diversas plataformas: no Youtube atingem milhões de visualizações, no Instagram se mesclam a fotos de antes e depois e no TikTok se destacam entre danças e coreografias, condensando semanas de acontecimentos em poucos minutos. A existência dos diários de cirurgia, um tipo de produção audiovisual muito particular, pode ser entendida como um fenômeno complexo e relevante. Argumenta-se que sua importância pode ser atestada não somente pelo número de visualizações dos vídeos, mas também pelo fato de que materiais de divulgação como estes podem ser impactantes na auto percepção corporal e na decisão de fazer uma cirurgia estética, por parte de mulheres e adolescentes. Além disso, trata-se de um exemplo singular que revela novos processos coproduzidos por meio das interações ocorridas via internet de um modo geral e especificamente nas redes sociais. Ademais, ilustra uma forma bastante singular de digitalização da vida, por meio da produção e publicação de relatos que narram a intimidade do percurso de realização de uma cirurgia estética. Não apenas palavras e gestos que traduzem desejos, expectativas, ansiedades e medos, mas também imagens que refletem os recortes e ajustes (a serem) feitos nos corpos se transformam em conteúdo” digital, com vistas a produzir o maior número possível de visualizações e interações. Nesta direção, os diários são analisados com o objetivo de demonstrar como este tipo de produção, que ilustra novas formas de aprimoramento de si, por meio das intervenções cirúrgicas, e exposição pessoal via audiovisual, só existe por meio da internet e redes sociais. Além disso, argumenta-se que este fenômeno precisa ser entendido à luz da problematização de certas fronteiras, como vida pública e privada, e imagens em telas de dispositivos e pessoas (em seus corpos e peles concretos). São dimensões que permitem refletir acerca de novos modos de produção de subjetividades, transformações corporais e, em especial, referências ao que seria da ordem do natural ou sintético, e padrões de gênero e feminilidade.