Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 083: Patrimônios culturais e meio ambiente: pensando a proteção de modos de vida e territórios de povos e comunidades tradicionais
"Não podemos deixar ela cair": memória, resistência e disputas em torno da Igreja de Santo Antônio, em Paracatu de Baixo, Mariana/MG
O rompimento da barragem de Fundão, em novembro de 2015, provocou danos incomensuráveis ao longo do Rio
Doce, como a destruição de territórios enquanto base da reprodução social, cultural e econômica de
comunidades tradicionais e camponesas (Zhouri et al, 2016). A maioria das famílias que foram
desterritorializadas dos seus locais de moradia está vivendo na sede urbana de Mariana. Essa é a situação
vivenciada pelos moradores da comunidade de Paracatu de Baixo. A vida provisória (Lima, 2018) é marcada pela
luta para recomposição dos territórios, recursos, estratégias e projetos. Além disso, em concomitância ao
enfrentamento de um processo institucionalizado, burocratizado e disciplinador, que os obriga a lutarem por
um novo lugar, os atingidos lidam com o descaso relacionado à conservação e à manutenção das edificações que
não cederam após o rompimento da barragem e que permanecem representando espaços importantes para encontros
e compartilhamentos entre vizinhos e parentes, como é o caso da Igreja de Santo Antônio - tombada em nível
municipal conforme deliberação do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural de Mariana (COMPAT), em 2016. A
preservação da igreja de Santo Antônio representa a manutenção da memória, dos afetos, da identidade e do
cotidiano anteriormente compartilhado. Nesse horizonte, novas dinâmicas de reterritorialização parecem
emergir e a religiosidade constitui outra forma de resistência e ressignificação dos territórios. Em um
contexto em que suas condições de autonomia foram retiradas, é importante apontar que os esforços dos
atingidos em manter a tradição estão alicerçados na contínua dinâmica reivindicativa exigida pelos agentes
protagonistas da reparação dos danos. Neste horizonte, os atingidos foram excluídos do processo de
elaboração do projeto da nova Igreja de Santo Antônio que está sendo construída no reassentamento da
comunidade. Fato que provocou bastante inquietação e reivindicação para que a comunidade pudesse participar
do processo de construção de algo que representasse a fé, o cuidado e a partilha entre o grupo, além da
importância da formação da identificação com o novo lugar coletivo. Dessa forma, o objetivo da proposta é
refletir sobre os esforços dos moradores de Paracatu de Baixo para a manutenção das práticas socioculturais
em torno da Igreja de Santo Antônio e o surgimento de uma nova gramática da resistência (ZHOURI, 2019). Além
disso, pretende-se tecer reflexões acerca da disputa relacionada ao desenvolvimento do projeto arquitetônico
da nova igreja no reassentamento e as implicações para as práticas tradicionais.
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