Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 083: Patrimônios culturais e meio ambiente: pensando a proteção de modos de vida e territórios de povos e comunidades tradicionais
As encruzilhadas do Bará do Mercado de Pelotas (RS)
Atualmente, segundo estudos, há no estado do Rio Grande do Sul mais de 60 mil terreiros em atividade. Em
Pelotas (RS), cidade considerada berço destas religiões no estado, há mais de duas mil casas religiosas de
matrizes africanas. A presença significativa das religiões afro-brasileiras no contexto rio-grandense e
pelotense é expressada na diversidade cultural africana que produz e reproduz o tecido social sulino.
O Mercado Público é um território considerado referência simbólica fundamental para as comunidades
tradicionais de terreiro e para manutenção de suas práticas sagradas, referindo-se tanto às memórias e
narrativas que conectam a construção do mercado aos ancestrais escravizados, quanto pelo fato do mercado ser
lugar de domínio do Orixá Bará. Em Pelotas, o Bará foi (re)assentado em 2012 no Mercado Público, ocasionando
ataques racistas às sacerdotisas que estavam conduzindo o ritual religioso. Em 2015 e 2016, ocorreram as
primeiras manifestações públicas em homenagem ao orixá Bará na cidade. Em 2019, a cidade recebeu a doação de
uma escultura do Bará Lodê, retomando-se a manifestação religiosa denominada "Procissão ao Pai Bará", a qual
ocorreu nos anos seguintes (2020-2021) a partir de um novo formato virtual devido ao contexto de pandemia.
Outro marco importante de reconhecimento da relação entre o Mercado Público e as Tradições das Matrizes
Africanas em Pelotas foi a instalação do adesivo na encruzilhada central, em julho de 2021, de modo a
reafirmar sua territorialização. No adesivo há a ilustração de sete chaves e correntes que representam o elo
de ligação ao Orixá Bará, mas também simbolizando a função do Orixá em abrir e fechar caminhos. Em junho de
2021 foi autorizada a demarcação do centro do Mercado Público com o adesivo referenciado ao Orixá Bará. No
ano seguinte foi aprovada a Lei Municipal 7.025/2220 que institui oficialmente o dia do Orixá Bará a ser
celebrado no Município de Pelotas no dia 13 de junho.
Nesse sentido, o presente estudo propõe tomar o caso do Bará do Mercado de Pelotas e o seu processo de
patrimonialização, iniciado em 2023 através de solicitação do Conselho Municipal do Povo de Terreiro para
tratar acerca dos desafios que se encruzilharam no caminho para o reconhecimento do bem cultural como
patrimônio imaterial do estado do Rio Grande do Sul.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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