Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 102: Transições democráticas e controle social: repensando marcações temporais
Guerra híbrida e a zona cinzenta de tempo e espaço: o caso brasileiro (2014-2024)
Como sabemos pela nossa própria experiência brasileira, golpes militares são vistos como eventos com
datas de início e, talvez de forma menos marcada, fim. Em todos os níveis de análise sociopolítica que se
coloque, o golpe é visto como ruptura de algo. Assim, suas linhas demarcatórias são bastante claras. De
certa maneira, quando se fala sociologicamente em golpe militar, se supõe que tal ruptura também se dá pela
intromissão invasiva do campo da guerra no campo da política. A partir desse momento, e ainda que termos
como estado de exceção expliquem vários elementos jurídicos e políticos implícitos na gerência dos regimes
militares, é preciso levar em consideração também como categorias nativas do universo militar se desdobram
na sua forma de conduzir o Estado. Tomando este elemento em perspectiva, gostaria de tratar sobre uma nova
forma de guerra que apareceu nos últimos anos no repertório militar: a guerra híbrida. De forma resumida,
seu pressuposto é o do apagamento da fronteira entre guerra e política, tempo de guerra e tempo de paz,
estatal e não-estatal, e entre doméstico e estrangeiro. Trata-se, enfim, de considerar que todos esses
elementos estão em forma híbrida. Diante disso, cabe se perguntar como militares re-escalonaram sua própria
concepção do que seria um regime militar, golpe, etc, e se a noção de ruptura no tempo e espaço ainda é
viável nessa nova modalidade militar. Pretendo trazer algumas reflexões sobre este problema a partir de uma
perspectiva etnográfica sobre a ação política de militares no Brasil nos últimos 10 anos
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