ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 043: Desenvolvimento e conflitos socioambientais: práticas de apropriação territorial e alternativas transformadoras
“Se a terra tiver doente e a água tiver doente, nós vamos estar doentes! Petróleo, desenvolvimentismo, agências e resistências da Associação das Mulheres Indígenas em Mutirão, Oiapoque-AP.
Os povos indígenas Galibi Kali’na, Galibi Marworno, Karipuna e Palikur vivenciam, há séculos, ameaças e violações aos seus territórios, recursos, identidades e modos de ser e viver. Habitantes das terras indígenas Galibi, Juminã e Uaçá, no município de Oiapoque, estado do Amapá, no extremo norte da Amazônia brasileira, fronteira com a Guiana Francesa, suas histórias e memórias são atravessadas por projetos desenvolvimentistas mesmo antes desse termo ser cunhado na teoria ou na vida cotidiana. Desde o século XVII, lutam contra os impactos da presença dos colonizadores europeus; de ciclos econômicos diversos (lícitos e ilícitos), dentro e fora de suas aldeias; das críticas e imposições de outros modelos socioeconômicos, que desqualificam os seus próprios e impõem formatos exógenos e desconectados de suas realidades e interesses; das dinâmicas econômicas atuais, em que a sociedade não indígena e mesmo alguns indígenas priorizam o lucro em detrimento do bem viver e de um futuro bom para seus filhos e netos. A perspectiva da exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas, distante cerca de 160 km da cidade de Oiapoque, tem gerado muitos debates, disputas de narrativas, expectativas de grande crescimento econômico no município e no Estado do Amapá, além de conflitos, diretos e indiretos, entre os que defendem e os que questionam e/ou condenam esta possibilidade ameaçadora, especialmente para humanos e não humanos da região. Os povos indígenas têm se colocado na linha de frente de resistência a esse projeto desenvolvimentista, que já se firmou como o mais impactante e potencialmente nocivo, seja pelos impactos que já vem causando (como a imputação de culpa aos indígenas por serem contra o progresso”) como pelos incalculáveis perigos, no caso de um acidente petrolífero. Nesta luta, se destaca o papel da Associação das Mulheres Indígenas em Mutirão-AMIM, que representa as mulheres dos quatro povos indígenas de Oiapoque. A AMIM é contra a exploração de petróleo na região e, para além dos eventos, oficinas e debates em que participa sobre o tema, sua atuação junto aos povos e aldeias da região inclui a execução de vários projetos de geração de renda, proteção territorial e uso sustentável dos recursos de seus territórios. Seja por meio dos projetos, de seu posicionamento contrário ao petróleo e a outros impactos nocivos a seus territórios e povos, a AMIM demonstra o papel fundamental dos povos indígenas na reflexão sobre o desenvolvimento na perspectiva não indígena, branca, capitalista, reafirmando e exemplificando que formas outras de bem viver são possíveis e necessárias, em contraposição ao desenvolvimentismo que segrega, amplia desigualdades e desrespeita quem privilegia a vida ao invés de royalties petrolíferos.