ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 009: Antropologia da Economia
Dívidas, dinheiro e moralidades. Um olhar desde a feira municipal de São Gabriel da Cachoeira, Amazonas
Caio do Amaral Mader (UNB), Paula Cristina Correa Bologna (University of Leeds), Flavia Melo da Cunha (UFAM)
Esta proposta nasce de uma experiência etnográfica compartilhada entre as/o autor/as na feira municipal de São Gabriel da Cachoeira, cidade transfronteiriça do noroeste amazônico brasileiro, com uma das maiores porcentagens de população indígena autodeclarada do país. Situada no centro da cidade, a feira municipal é um dos principais pontos de comercialização de gêneros agrícolas e de outros produtos, e reúne diferentes categorias de vendedores, em sua maioria mulheres: artesãs, revendedoras, produtoras,merendeiras, representantes comerciais e agiotas. Nosso objetivo é descrever as relações comerciais protagonizadas por mulheres nesse particular contexto amazônico, dedicando especial atenção ao modo como estas produzem e são produzidas por diferentes formas de dívidas e de circulação de dinheiro, e de moralidades sobre ambas. Mais detidamente, abordaremos essas relações a partir de quatro eixos descritivo-análiticos: (i) a dinâmica de relações econômicas, sociais e morais entre revendedoras e produtoras, cuja relação é marcada por conflitos referentes à legitimidade de se vender e revender produtos; (ii) os regimes de "legalidade" e "ilegalidade" que regulam as transações econômicas; e (iii) o processo de precificação construído por valores não exclusivamente monetários, como, por exemplo, valores morais e mnemônicos; (iv) sua relação com a dívida. Embora seja extensa a bibliografia sócio-antropológica na interface entre relações de dívida e transações econômicas nessa região, há uma lacuna em como gênero se entrelaça a essa discussão. Assim, buscaremos fornecer uma análise etnográfica das complexas interações entre gênero, dinheiro, dívida e moralidades naquele contexto, com vistas a suprir, ainda que parcialmente, essa lacuna.