Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 056: Etnografias do catolicismo: práticas, rituais, experiências e trajetórias em perspectiva
"Gay e católico": construções coletivas e disputas acerca dos sentidos de ser católico
Pessoas LGBTQIAPN+ são alvo constante de discursos discriminatórios que, não raras vezes, são motivados
por um viés de fundamentalismo religioso. A Igreja Católica Apostólica Romana é um dos espaços onde muitas
vezes se pode constatar esse tipo de discurso que aciona fundamentos teológicos, doutrinários e supostamente
bíblicos para enquadrar corpos e comportamentos dissidentes num lugar de desconformidade com a fé católica
por estarem essas pessoas em pecado, dada a vivência da sua sexualidade e/ou identidade de gênero. Tal
postura institucional da Igreja vem sendo há muito confrontada por pessoas LGBTQIAPN+ que, professando a fé
católica, desejam permanecer na Igreja e para tanto vêm se organizando coletivamente a fim de construírem
espaços de acolhimento, mas também de mobilização política com o intento de disputar dentro da Igreja os
sentidos do que significa ser católico. Neste sentido, minha intenção neste trabalho é apresentar e
discutir essa realidade por meio de relato etnográfico, fruto da minha própria vivência e atuação nestes
espaços, enquanto católico e gay. De forma mais localizada, abordarei a realidade do grupo Diversidade
Cristã de Brasília (DCBSB) junto ao espaço pastoral liderado pelos religiosos jesuítas em Brasília - DF. O
grupo, que reúne católicos LGBTQIAPN+, é parte de um movimento maior, a Rede Nacional de Grupos Católicos
LGBT, fundada em 2014 no Rio de Janeiro. A Rede conta hoje com grupos em várias regiões do país, mas meu
interesse é refletir sobre o DCBSB, uma vez que se costuma afirmar o perfil conservador de Brasília, o que
tem impedido inclusive que o grupo seja acolhido nas paróquias da Arquidiocese. A organização de grupos como
o da capital federal, tem conseguido promover tensionamentos dentro dos espaços institucionais da Igreja, de
modo a conseguir inclusive assento representativo dentro de instâncias importantes de discussão eclesial.
Pensar esse processo de organização coletiva e seus possíveis impactos no modo como comunidade/igreja local
percebem o modo de ser católico são também aspectos que me interessam. Essas experiências ainda assumem a
disputa de narrativa acerca dos ideais de família e padrões de moralidade que têm sido insistentemente
explorados nos últimos anos, sobretudo por grupos políticos com forte viés fundamentalista, que atuam na
propagação de pânicos morais.
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