ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 056: Etnografias do catolicismo: práticas, rituais, experiências e trajetórias em perspectiva
"Gay e católico": construções coletivas e disputas acerca dos sentidos de ser católico”
Pessoas LGBTQIAPN+ são alvo constante de discursos discriminatórios que, não raras vezes, são motivados por um viés de fundamentalismo religioso. A Igreja Católica Apostólica Romana é um dos espaços onde muitas vezes se pode constatar esse tipo de discurso que aciona fundamentos teológicos, doutrinários e supostamente bíblicos para enquadrar corpos e comportamentos dissidentes num lugar de desconformidade com a fé católica por estarem essas pessoas em pecado, dada a vivência da sua sexualidade e/ou identidade de gênero. Tal postura institucional da Igreja vem sendo há muito confrontada por pessoas LGBTQIAPN+ que, professando a fé católica, desejam permanecer na Igreja e para tanto vêm se organizando coletivamente a fim de construírem espaços de acolhimento, mas também de mobilização política com o intento de disputar dentro da Igreja os sentidos do que significa ser católico”. Neste sentido, minha intenção neste trabalho é apresentar e discutir essa realidade por meio de relato etnográfico, fruto da minha própria vivência e atuação nestes espaços, enquanto católico e gay. De forma mais localizada, abordarei a realidade do grupo Diversidade Cristã de Brasília (DCBSB) junto ao espaço pastoral liderado pelos religiosos jesuítas em Brasília - DF. O grupo, que reúne católicos LGBTQIAPN+, é parte de um movimento maior, a Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT, fundada em 2014 no Rio de Janeiro. A Rede conta hoje com grupos em várias regiões do país, mas meu interesse é refletir sobre o DCBSB, uma vez que se costuma afirmar o perfil conservador de Brasília, o que tem impedido inclusive que o grupo seja acolhido nas paróquias da Arquidiocese. A organização de grupos como o da capital federal, tem conseguido promover tensionamentos dentro dos espaços institucionais da Igreja, de modo a conseguir inclusive assento representativo dentro de instâncias importantes de discussão eclesial. Pensar esse processo de organização coletiva e seus possíveis impactos no modo como comunidade/igreja local percebem o modo de ser católico são também aspectos que me interessam. Essas experiências ainda assumem a disputa de narrativa acerca dos ideais de família e padrões de moralidade que têm sido insistentemente explorados nos últimos anos, sobretudo por grupos políticos com forte viés fundamentalista, que atuam na propagação de pânicos morais.