Trabalho para Mesa Redonda
MR 53: O FAZER ANTROPOLÓGICO NUMA SOCIEDADE DAS IMAGENS: perspectivas críticas e desafios teóricos e metodológicos aos cânones clássicos
Os impactos do brilho e fascínio da imagem no fazer e na interpretação antropológica.
A partir de pesquisas de campo realizadas no percurso dos últimos anos em terrenos específicos, - sobre a produção imagética do movimento do Grito dos Excluídos; os recentes ataques aos monumentos históricos; a produção de imagens sobre o bicentenário da independência; o desfile do GRES Mangueira (2019) -, entre outros espaços sociais analisados; desenvolve-se uma análise sobre o fazer antropológico em meio a conflitos entre sujeitos e processos históricos sociais em ebulição. Perspectivas críticas e desafios teóricos e metodológicos aos cânones clássicos se impõe num contexto de transformações aceleradas. Para participação nesta MR propõe-se uma investida sobre as mudanças nos gestos da pesquisa (Flusser, 2014), perscrutando os usos e produções das imagens alcançando as transformações radicais em curso nos modos de vida e no fazer investigativo. Instigado pela comparação de registros de Malinowsky (1983) - referência clássica- e Pierre Clastres (1980), - este acerca de um “retrato” feito numa “etnografia selvagem” no Paraguai -, apresenta-se reflexões sobre os usos das imagens e seus testemunhos pela antropologia. Considerando que “com o mesmo direito que a palavra e a escrita, a imagem pode ser veículo de todos os poderes e de todas as vivencias” (Gruzinsky, 1995), de maneira seu brilho e fascínio impactam na interpretação sociológica e etnológica contemporânea? Paradoxalmente, no momento que a imagem adquire status de documento, superando enfim a fixação do registro escrito clássico, a antropologia audiovisual sofre abalos quanto a fidelidade da sua “grafia” com a desconfiança dos usos da “inteligência artificial” (IA). De que modo a fluidez, a efemeridade e velocidade da produção e circulação das imagens promovem perdas de referenciais e a suspensão de “critérios de autenticidade” (Lévi-Strauss), colocando em xeque sua efetiva eficácia simbólica? De que modo o excesso e difusão alucinatória de imagens promovem esvaziamentos de sentido do registro visual? Qual o grau de “falha na regulagem estável entre o sensível e inteligível” que esta profusão de imagens denota? É o desafio que se pretende propor ao debate sobre o fazer antropológico e etnográfico colocando em foco o destino das imagens (Rancière) numa sociedade à deriva (Castoriadis).
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