ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 020: Antropologia e Alimentação: interculturalidade, saberes críticos e desafios contemporâneos em contextos de luta por direitos
Emergências e Crises Sanitárias: diálogos sobre políticas públicas, fome, gênero e favela.
O objetivo deste trabalho é refletir sobre como a instabilidade na gestão da precariedade, caracterizada pelas incertezas nos recebimentos de auxílios governamentais (e outras incertezas), pode resultar no aumento da pobreza e da fome na vida de moradoras de uma favela localizada entre as zonas norte e oeste da cidade do Rio de Janeiro, a qual chamo de Tripé. Como uma peça de um quebra-cabeça, a fome se manifesta como uma das muitas desigualdades que se encontram na vida de mulheres, cujas situações vistas enquanto exceções para uns, rompem determinados cotidianos se tornado o ordinário, e a resistência é a única alternativa para produzir possibilidades de vida. A realidade ali destacada, permeada e assombrada pela fome, por inúmeras violências, pela desinformação, pela instabilidade no recebimento de programas sociais, pelo empobrecimento e por crises sanitárias, produz novas lógicas de vida, novas relações sociais e a mobilização de moralidades, afetos e conflitos. Defendo então que a fome é um dos fatores que organiza a vida social no território em questão, produzindo resistências, conflitos, tensões e alianças que culminam até mesmo em novas organizações e lideranças comunitárias. Em um contexto recente de crise, a pandemia de COVID-19 agravou a fome no Brasil e evidenciou a profunda desigualdade socioeconômica presente no país e, consequentemente, no Tripé. Muitas famílias moradoras da favela vivenciaram situações de grave insegurança alimentar e as estratégias para conseguir alimentos se tornaram importantes elementos para organização de relações e dinâmicas sociais. A insegurança alimentar disparou entre as mulheres brasileiras negras que chefiavam seus lares e que possuíam baixa escolaridade, mostrando que a fome tem gênero, cor e grau de escolaridade. Isto aponta para a necessidade de refinar as ferramentas e a gestão de políticas públicas, elaborar guias alimentares e produzir medidas que regulem e promovam uma alimentação regular e permanente em quantidade e qualidade, respeitando a diversidade cultural e levando em consideração a sustentabilidade, precisa estar na agenda de uma decisão política eficaz.