Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 035: Cidades e citadinidades: questões de Antropologia Urbana
Etnografias de situações ordinárias e efêmeras nas ruas: análise de vertentes catalãs e francesas
Proponho-me a fazer um balanço crítico do potencial contido em abordagens etnográficas voltadas a usos corriqueiros de ruas e de outros espaços públicos, com base na leitura crítica de duas obras ligadas ao contexto europeu.
A primeira delas refere-se ao seguinte livro: Horta, Gerard. Rambla del Raval de Barcelona: de apropiaciones viandantes y procesos sociales. Barcelona: El Viejo Topo, 2010.
A publicação decorre de projeto coletivo coordenado por Manuel Delgado (Horta, 2010, p. 23), antropólogo catalão que aprofunda fundamentos teóricos e metodológicos referenciais de uma antropologia do urbano, com ênfase nas múltiplas interações no plano das ruas a partir do olhar etnográfico.
Durante dois anos, Gerard Horta (docente da Universidade de Barcelona) etnografou formas de apropriação por parte de transeuntes da Rambla del Raval, num bairro assinalado pela marginalidade e submetido há alguns anos por intervenções urbanas, como a própria rambla já mencionada.
A segunda abordagem remete a um balanço do seguinte dossiê: Paquot, Thierry (ed.). Petits riens urbains (Dossier). Revue Urbanisme, n. 370, 2010, p. 39-70. O organizador, Thierry Paquot (docente da Escola Nacional de Arquitetura de ParisVal de Seine), que trabalha no campo da filosofia do urbano, é autor de livros e organizador de coletâneas francesas voltados a múltiplos aspectos da vida urbana.
No referido dossiê, são contempladas várias atividades cotidianas caminhar, cumprimentar, observar, usar celular etc. com significativa participação de antropólogas/os, como Yves Winkin, Emmanuelle Lallement, Michèle Jolé, Martine Bergues, Nadja Monnet e Pascale Legué, cujos enfoques buscam extrair conhecimento de ações aparentemente corriqueiras.
Em ambas as perspectivas, que serão tratadas em contraponto a outras linhas da antropologia urbana contemporânea, trata-se de atentar para um mosaico de práticas aparentemente banais que, sob outros olhares e estratégias de escrita, abrem possibilidades analíticas instigantes sobre o contexto da citadinidade.