Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 057: Etnografias em contextos de violência, criminalização e encarceramento
Gestão de meninos-problema: Escolas da periferia e a criminalização de trajetórias
Esse resumo é resultado de uma pesquisa etnográfica em escolas públicas de favelas no Rio de Janeiro,
concentrando-se em analisar o processo de sujeição de alunos rotulados como "meninos-problema", através de
dinâmicas discriminatórias, evidenciando a reprodução do racismo e criminalização da pobreza. Ao observar a
rotina de duas escolas públicas na periferia, destaco a relevância da localização e da relação da
instituição com o território, a fim de compreender como a complexidade das relações territoriais influencia
o ambiente escolar, resultando na criminalização dos "meninos-problema". A análise detalhada da trajetória
de dois jovens permite explorar como as dinâmicas do território permeiam a escola, contribuindo para a
estigmatização desses alunos.
Desfrutando da função de estagiário em educação especial pude compartilhar espaços com diferentes alunos,
professoras, supervisoras e perceber e comparar as nuances de regimento e performance dos diferentes espaços
da escola. Ouvi as opiniões e os comentários de alguns funcionários sobre determinados alunos e também sobre
outros profissionais, e vice-versa.
A acusação de certos alunos como 'os problemas' é tão frequente que pode ser entendida como um jargão, no
qual a palavra 'problema', por força do hábito no ambiente escolar, seus usos e sentidos, faz com que se
torne uma metáfora para algum aluno. É comum que os funcionários da escola se referiram a esses alunos
apenas como problema, o problemático", "o problema da escola, aquele problema, ou problema do sétimo
ano.
Os julgamentos de valor que classificam esses alunos são verbalizados sem tanto pudor em qualquer lugar da
escola. Um ritual diário de reificação de estereótipos é performado diariamente: na sala de aula, na frente
de todos, nas entre salas da direção, no refeitório enquanto os demais comem, nos gritos de advertência
pelos corredores das escolas.
Concentro minha análise sobre a escola 1, escola do pé do morro e a forma com que Davi, um menino de apenas
7 anos, é estigmatizado como uma semente do mal e um problema para toda a escola. Sua classificação como
meninos-problema se dá devido a seus casos de indisciplina escolar e por supostamente ser filho de um
traficante do grupo armado que domina territorialmente o bairro. Dentre diversos episódios testemunhados em
que o menino é discriminado pelo corpo de funcionários da escola, para que possamos compreender melhor a
gestão e as expectativas da escola sobre a trajetória do menino, trago para análise a ameaça lúdica feita a
ele pela diretora da escola depois do envolvimento numa briga durante o recreio Se você não mudar seu
comportamento, você vai para aquela escola que não volta pra casa
o DEGASE.