Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 008: Antropologia da Arte
Canções de liberdade: as pulsões sonoras do reggae jamaicano como forma de resistência
O presente trabalho é resultado da minha pesquisa de doutorado sobre o conteúdo político das músicas de reggae jamaicano, e, mais do que isso, sobre uma estética afrodiaspórica. Neste comunicação, me debruço sobre as músicas do reggae jamaicano correlacionando-as com as estruturas de segregação colonial e pós-colonial e suas consequências para o povo negro da Jamaica. O intuito é discutir a maneira como esses contextos se tornaram importantes instrumentos para formação de modos de composição musical, que expressam formas de resistência dessas populações negras e afrodiaspóricas.
A partir das produções musicais realizadas por dois dos principais responsáveis pela bases da resistência afrodiaspórica na música reggae jamaicana, Peter Tosh e Bob Marley, busquei debater a relação entre a música reggae e o contexto social, político e cultural da sua atuação política contestatória. Para tanto, busquei um cenário de diálogo entre algumas composições presentes em dois álbuns de cada cantor, que apontam, de forma latente, a presença de um conteúdo de descolonização e reafricanização dos afrodiaspóricos no atlântico, e as experiências biográficas dos compositores. Atentando para as suas biografias como testemunhos compartilhados das experiências de segregação colonial, mas também, de contestação. Dentro deste diálogo, três temas foram eleitos como eixos de análise: pan-africanismo, anti-racismo e as críticas ao capitalismo econômico e racial. Se, por um lado, optei por interrogar as respectivas músicas em função de uma análise dos conteúdos das letras, em sua forma/conteúdo, a partir da utilização do processo de decomposição da música, por outro lado, investi em um retorno às memórias e experiências destes artistas em trenchtown - gueto Jamaicano. Diante disso, proponho estabelecer uma relação dos conteúdos intra-estéticos da música com as bases de sentido e eficácia outorgadas pelo contexto socio-histórico-cultural, acionado aqui através dos usos de elementos biográficos.
Argumento que o reggae se apresentou nos diversos cenários de diáspora africana, como uma sonoridade que diz muito sobre o que é ser um ser humano negro, principalmente, quando se é pobre e constantemente confrontado com a experiência do colonialismo/colonialidade do poder. Proponho pensarmos sobre como a diáspora diz muito sobre o que nós somos, não fazendo parte somente de uma única história biográfica, mas de sentidos sonoros de muitas existências, de pulsões sonoras que não podem ser compreendidas pela estética ocidental.