Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 037: Corpo, reprodução e moralidades: disputas de direitos e resistência à onda conservadora
Movimento feminista crítico de gênero: corpo, diferença sexual e disputas em torno da categoria mulher
Fabiana Jordão Martinez (UFCat)
Este trabalho é fruto de uma extensa pesquisa que desde 2015 vem mapeando os feminismos no ciberespaço, sua dinamica de atuação, segmentação em vertentes, bem como detectando o surgimento e crescimento de grupos auto intitulados feministas radicais (MARTINEZ, 2019; 2021).
Neste trabalho, analiso o movimento feminista crítico de gênero, seu crescimento, formas de mobilização e disputas em torno da categoria mulher. Movimento feminista crítico de gênero é uma uma categoria híbrida, êmica e ética, e uma estratégia metodológica para descrever um fenômeno ideológico e político amplo e pulverizado pelo ciberespaço. Em primeiro lugar, ela permite que seja feita uma distinção entre os diversos movimentos antigênero que têm surgido nos últimos anos, de caráter neo conservador que visam restaurar a diferença sexual como manutenção do status quo patriarcal (BIROLI, MACHADO e VAGGIONE, 2020) e aqueles que surgem no seio do movimento feminista, de caráter mais laico e progressista visando a autonomia das mulheres através da reconstituição da categoria mulher com base no sexo (corpo e diferença sexual) como forma do que acreditam ser a manutenção e proteção de direitos já conquistados. Em segundo lugar, esta categoria permite descrever um fenômeno, que embora intríseco ao Feminismo Radical, extrapola suas fronteiras, através de uma onda crescente e maciça de conscientização sobre a necessidade da reconstituição da categoria mulher como um sujeito político ontológico centrado na diferença sexual.
Em primeiro lugar, descrevo o movimento feminista crítico de gênero através do caso da página do Ministério das Mulheres na plataforma Instagram, que desde seu início tem sido alvo de uma da estratégia sob a acusação de de não se pautarem em uma definição precisa de mulher; ou ainda, sobre se esquivar em relação ao uso da categoria mulher ou menina em suas propagandas. Em seguida, analiso as disputas em torno da categoria mulher através da epistemologia que rege o movimento crítico de gênero, que seguindo a tendência da chamada virada materialista das teorias críticas irá operacionalizar uma disputa sobre a categoria mulher, tecendo críticas ao stablishment acadêmico, onde predominam o conceito de gênero, as teorias queer e pós estruturalistas. Analiso também as formas de mobilização e a dinâmica de atuação do campo e exploro os motivos do seu crescimento através das falas de ativistas em um survey aplicado em 2020. Por fim, exploro como as reivindicações e supostas colisões de direito estão sendo organizadas e pautadas pelo movimento através de alguns dos instrumentos produzidos neste campo e voltados a produção de políticas sociais.