ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 025: Antropologia(s) Contemporânea(s) e Sofrimento Psíquico
O vínculo na construção do cuidado na saúde mental.
Em atendimento a uma paciente de 51 anos, casada, acompanhada por um centro de atenção psicossocial, há oito anos, ela relata sua história, as adversidades familiares e diversos outros abusos que forjaram a sua relação com o álcool. “Bebo pra não me sentir sozinha, a cachaça é como uma amiga!” Sua trajetória clínica possui uma inflexão importante, a partir da sua relação com seu técnico de referência. “Ele é como um amigo, com ele eu tive confiança de poder dizer as coisas (...) com ele posso me abrir!”. Essa relação paciente-profissional, no desenho assistencial da saúde brasileira, se sedimenta pelo conceito vínculo. Um tipo de prática institucional, que organiza e delimita as ações de cuidado, constituindo um processo de corresponsabilização que impulsiona o processo terapêutico. Não obstante, quando tomado pelas lentes da antropologia, o vínculo se desdobra como um conceito aberto, que é mobilizado pela e na vida das pessoas. Um caminho intersubjetivo que engendra circuitos e movimentos que propicia novas conformações e associações. E na trajetória dessa paciente, essa relação afluiu, não para estratégias focadas na redução do consumo de álcool, mas, para transformações individuais. “Está nascendo uma nova pessoa, por que antes era como se eu fosse uma personagem inventada”. Assim, orientado pelas redes de significados e experiências, o vínculo potencializa novos paradigmas ao cuidado, cujo regime de produção se efetiva pelas tramas da própria vida.