Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 060: Experimentos de Ontologia: formas de mundialização desiguais e etnografia como atuar criativo.
Arquiteturas compartilhadas: inventando práticas negociantes com o povo Xakriabá
Em um contexto de colapso climático, expansão urbana, construção desenfreada de edifícios e
infraestruturas públicas e privadas, urge pensar em outras possibilidades de habitar. Os territórios
indígenas e suas tecnologias ancestrais são reconhecidos como alternativas para se pensar outros modos de
estar no mundo de forma compartilhada com muitos seres, ao contrário dos modos predominantes nas cidades
brasileiras modernas. A partir da ideia de Marisol de la Cadena do não somente, aprendi a expandir
a prática da tradução acolhendo a multiplicidade e as diferenças percebidas quando estamos entre
mundos. Em visita recente à Terra Indígena Xakriabá, conversávamos sobre o que era arquitetura e não
chegávamos a um acordo. As definições não estavam erradas. Mas não
eram só aquilo. O que talvez possamos chamar de arquitetura Xakriabá não é a mesma coisa
que chamamos de arquitetura na universidade ou em outro lugar. Não eram as mesmas
práticas, eram diferentes. Esse processo de tradução feito com mal-entendidos
só é um problema se a nossa intenção for que o entendimento seja
único. A equivocação, desse modo, não é algo a ser
evitado. No território Xakriabá, arquitetura também era o processo coletivo de
construção das casas tradicionais e suas reverberações ou
não nas práticas construtivas atuais, as lutas e conquistas pela
diferenciação do espaço escolar indígena, as práticas de
retomada que geram os diversos espaços comunitários, etc. Mas para o povo
Xakriabá, não. O que chamávamos de arquitetura, para eles, era a vida cotidiana, parte
da ontologia Xakriabá. Talvez o conceito de arquitetura estivesse em germinação, ali naquele encontro e
diálogo com a universidade. Aprendemos juntos que habitar o território exige constantes
negociações cosmopolíticas com as águas, os bichos, a terra, os tempos, as pessoas e todo o mundo ontológico
Xakriabá. A presente proposta pretende, a partir desses aprendizados etnográficos, imaginar formas
compartilhadas de fazer arquitetura, no diálogo entre a universidade e o território Xakriabá, ancorada em
algumas questões: O que as práticas espaciais Xakriabá podem nos ensinar sobre
arquitetura? Como considerar as práticas tradicionais nos processos de
aproximação para que o conceito e a prática de arquitetura que chegam ao
território Xakriabá não sejam os mesmos que discordamos na cidade? Como pensar
processos, práticas e pesquisas compartilhadas de arquitetura a partir dos encontros com os povos
indígenas?