ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 060: Experimentos de Ontologia: formas de mundialização desiguais e etnografia como atuar criativo.
Arquiteturas compartilhadas: inventando práticas negociantes com o povo Xakriabá
Em um contexto de colapso climático, expansão urbana, construção desenfreada de edifícios e infraestruturas públicas e privadas, urge pensar em outras possibilidades de habitar. Os territórios indígenas e suas tecnologias ancestrais são reconhecidos como alternativas para se pensar outros modos de estar no mundo de forma compartilhada com muitos seres, ao contrário dos modos predominantes nas cidades brasileiras modernas. A partir da ideia de Marisol de la Cadena do não somente, aprendi a expandir a prática da tradução acolhendo a multiplicidade e as diferenças percebidas quando estamos entre mundos. Em visita recente à Terra Indígena Xakriabá, conversávamos sobre o que era arquitetura e não chegávamos a um acordo. As definições não estavam erradas. Mas não eram só aquilo. O que talvez possamos chamar de arquitetura Xakriabá não é a mesma coisa que chamamos de arquitetura na universidade ou em outro lugar. Não eram as mesmas práticas, eram diferentes. Esse processo de tradução feito com mal-entendidos só é um problema se a nossa intenção for que o entendimento seja único. A equivocação, desse modo, não é algo a ser evitado. No território Xakriabá, arquitetura também era o processo coletivo de construção das casas tradicionais e suas reverberações ou não nas práticas construtivas atuais, as lutas e conquistas pela diferenciação do espaço escolar indígena, as práticas de retomada que geram os diversos espaços comunitários, etc. Mas para o povo Xakriabá, não. O que chamávamos de arquitetura, para eles, era a vida cotidiana, parte da ontologia Xakriabá. Talvez o conceito de arquitetura estivesse em germinação, ali naquele encontro e diálogo com a universidade. Aprendemos juntos que habitar o território exige constantes negociações cosmopolíticas com as águas, os bichos, a terra, os tempos, as pessoas e todo o mundo ontológico Xakriabá. A presente proposta pretende, a partir desses aprendizados etnográficos, imaginar formas compartilhadas de fazer arquitetura, no diálogo entre a universidade e o território Xakriabá, ancorada em algumas questões: O que as práticas espaciais Xakriabá podem nos ensinar sobre arquitetura? Como considerar as práticas tradicionais nos processos de aproximação para que o conceito e a prática de arquitetura que chegam ao território Xakriabá não sejam os mesmos que discordamos na cidade? Como pensar processos, práticas e pesquisas compartilhadas de arquitetura a partir dos encontros com os povos indígenas?