ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 029: Arquivos, coleções e objetos de arte: artefatos e invenções em perspectiva etnográfica
Apontamentos sobre hibridismo e contaminação simbólica da Casa pelo Museal.
As mudanças de abordagens nos últimos 50 anos para o estudo das relações entre indivíduo e sociedade, ora distanciando essas categorias ora integrando ou hierarquizando as mesmas, tem como resultado um expressivo construto teórico no âmbito da antropologia. Neste trabalho, as discussões se concentraram no cruzamento de práticas e simbologias identificadas nas espacialidades do museu e da casa, evidenciando as especificidades de suas materialidades, dos valores simbólicos que as atravessam e das relações sociais e de poder que ambas engendram. Nesse sentido, argumenta-se sobre a casa como possibilidade de fronteira com os espaços simbólicos do museal, incorporando as contribuições e desenvolvimentos teóricos realizados por Mary Douglas (1921-2007) e Alfred Gell (1945-1997). Por meio de Douglas (1966), faz-se discussões pertinentes aos sistemas simbólicos envolvendo as práticas museais, compreendendo os processos de musealização como rituais de passagem, bem como identificando uma manifestação do museal no ambiente doméstico, a partir do acionamento dos conceitos de ambivalência e hibridismo, decorrentes de um processo simbólico de contaminação da casa pelo museu. Assim, o espaço da casa, reorganizado e permeado por atos ritualísticos, trazidos dos processos de musealização para o âmbito da vida cotidiana, entrelaça-se ao sistema simbólico do museal, ou seja, tornando ambígua ou híbrida a categoria de casa e de museu; conferindo uma viscosidade ou indefinição de fronteiras entre as mesmas, objeto de interesse desta pesquisa. Para a abordagem das relações que são estabelecidas entre as pessoas e as coisas, numa perspectiva acerca das relações que estabelecemos com a materialidade, articulou-se as proposições teóricas acerca da antropologia da arte e da objetificação, cujos conceitos de agência e de “trecos”, de Alfred Gell (2018) e Daniel Miller (2013), respectivamente, indicaram bons caminhos para a discussão proposta. Nessa direção, defendeu-se que os objetos de uma casa, assim como a própria casa e os seus habitantes são possuidores de agência, onde se constroem reciprocamente. Diante destes cenários e a partir da ideia de que o espaço da casa é habitado por sujeitos, afetos, coisas, comportamentos prescritos socialmente, memórias individuais e coletivas; discorreu-se sobre as apropriações simbólicas que determinados indivíduos engendram, conferindo musealidade a esses espaços. Por fim, procurou-se identificar, nas espacialidades de algumas casas, formas de representações simbólicas e produtoras de sentidos, seja partir de valores partilhados pelo grupo familiar, seja por meio de uma aproximação estética ou do imaginário construído sobre os museus, enquanto índices representativos da memória ou de locais de fruição da arte por meio das exposições.