Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 040: Culturas populares e os usos da tradição
Um desejo de museu
A política nacional de patrimônio imaterial foi instituída em 2000 por meio do Decreto 3.551 e nessas mais de duas décadas mais de 50 bens foram registrados como patrimônio nacional (ALENCAR & GONÇALVES, 2023). No âmbito das estratégias de salvaguarda, a política federal orienta, por meio do Termo de Referência para a Salvaguarda de Bens Registrados, o fomento a Centros de Referência, entendidos como "espaços físicos de uso coletivo para abrigar acervos relativos ao bem cultural Registrado, realizar ações diversas e ser um espaço para a socialização dos detentores e divulgação do bem cultural para a sociedade mais ampla." (IPHAN, 2015, pgs.14-15). Ou seja, espaços em que se promove o bem de forma coletiva e não vinculado a determinado grupo específico. Até 2018, 12 centros tiveram fomento do Programa Cultura Viva e três foram implantados a partir de distintas parcerias (IPHAN, 2018, pgs. 34-36).
A partir da realidade de Pernambuco, estado brasileiro com maior número de bens reconhecidos em nível federal, essa apresentação pretende trazer para a discussão a articulação e o entrelaçamento das orientações e impactos das políticas de cultura, o reconhecimento enquanto patrimônio cultural brasileiro e o acionamento da ideia de museu. Partindo da premissa que o Museu é um instrumento de poder, se o museu tem autoridade para contar histórias, por que não contarmos nós mesmos a nossa? Essa é uma pergunta que vem sendo feita por diversos grupos e comunidades que buscam, por meio de seu próprio museu, ter autonomia e protagonismo no processo de musealização e entrar no jogo de disputa de narrativas, de direitos e de recursos. Nas últimas décadas, por exemplo, diversos museus foram criados atrelados sobretudo a questões relacionadas à memória, ao reconhecimento identitário, à posse da terra e à manutenção de saberes e práticas. Esses museus existem de forma plural, seja na estrutura física, no tipo e no conceito de acervo, no modo de exposição, na maneira como funciona, no formato de sua gestão.
Buscamos, portanto, refletir sobre o desejo de museu instigado por processos de inventário, mobilização e reconhecimento do patrimônio cultural e como estão sendo estruturadas essas iniciativas museológicas. Quais conceitos de museu estão sendo acionados? Como funcionam esses museus? Em que e como tensionam o campo? Como a patrimonialização e a musealização estão colaborando com a continuidade dos bens, grupos e manifestações? Quais estratégias estão sendo utilizadas?