Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 007: Antropologia Biológica e interfaces biologia e cultura: história, pesquisas atuais e perspectivas futuras
Sobre o Futuro dos Mortos de Mazagão Velho: pesquisa sobre a relação entre uma comunidade no Amapá e remanescentes humanos
É reconhecido que o registro bioarqueológico representa uma importante fonte de informações sobre os modos de vida de indivíduos ou coletivos humanos. Ao passo que a relação entre Bioarqueologia e comunidades contemporâneas se desenvolveu principalmente focada sobre os aspectos legais e éticos da pesquisa, ainda temos poucos exemplos ou propostas de trabalho que articulem arqueólogos e comunidades para o estudo de remanescentes de corpos humanos. No início dos anos 2000, a vila de Mazagão Velho, no Amapá, foi objeto de pesquisa focada na escavação da área onde outrora esteve localizada uma igreja do período pombalino. Além da base, alicerces da edificação e de centenas de objetos, a escavação coordenada por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco resultou na exposição de mais de oitenta sepultamentos humanos. A época, a partir de uma decisão em conjunto entre comunidade, pesquisadores e agentes
estatais, optou-se pela construção de um pequeno mausoléu no interior do cemitério São Benedito e a realização de um novo sepultamento dos corpos. Embora Mazagão Velho tenha sido alvo de inúmeros estudos – muitos dos quais voltados ao problema das intricadas camadas que formam a identidade local – a relação que essa comunidade mantém com os remanescentes humanos do mausoléu de São Benedito restava por ser estudada. Uma sondagem inicial apontou para diferentes interpretações e perguntas que emergem entre as pessoas de Mazagão Velho. Questões sobre a identidade negra ou portuguesa dos remanescentes de corpos humanos coexistem com o receio de que a realização de pesquisas sobres os esqueletos impliquem em sua saída e/ou extravio da comunidade. Nesta pesquisa, chamamos atenção para o fato de que a pesquisa arqueológica em Mazagão Velho está imersa em um contexto social complexo e que envolve pesquisadores, o poder estatal e uma comunidade atuante e preocupada com o futuro dos mortos.
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