ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 038: Criatividades indígenas na transformação da educação escolar
“A escola, assim como os Yanomami, tem corpo e precisa estar bem alimentada para ficar feliz"
A chegada da escola entre os Yanomami a partir da década de 1960 serviu às forças de colonização e sedentarização, mas também às estratégias indígenas de contraefetuação da colonização. A adoção das escolas pelos grupos Yanomami da região do rio Marauiá (AM) se dá paralelamente a um processo contínuo de reflexão sobre o que é a escola e o que eles têm buscado com ela e através dela. Neste contexto, as ações políticas de certos grupos yanomami passam a se apropriar das escolas para agir contraefetuando, ou diminuindo, a violência do contato e da assimilação. Assim como a escola, a arquitetura destes espaços nas comunidades também serviu ao colonialismo como instrumento civilizatório. Junto com os Yanomami da região do Marauiá (AM), nos provocamos a pensar em como poderíamos fazê-la servir aos interesses das comunidades. Como projetar uma escola capaz de refletir o modo yanomami de produzir e trocar conhecimento, ao invés de reproduzir a lógica ocidental/colonial? Seria possível pensar e construir uma escola propriamente yanomami? A nossa escola é como o corpo do Yanomamɨ. Usa algumas roupas dos napё (não-indígena), usa algumas coisas dos napё, mas ela tem pensamento Yanomamɨ”, sintetizaram os professores da comunidade Pukima Cachoeira. Partindo do acúmulo e reflexões de certas lideranças, xamãs e professores yanomami sobre a casa da escola como um corpo yanomami - com todas os seus compósitos físicos e imateriais - como arquitetos e antropólogos, trabalhamos junto com as comunidades yanomami na tradução espacial de ideias e conceitos, para muito além de sua arquitetura. O trabalho apresenta algumas elaborações yanomami a partir de um esforço coletivo com os professores e xamãs yanomami para construir uma escola propriamente yanomami, com olhos para enxergar o caminho certo e cabeça para pensar como Yanomamɨ pensa e para conhecer o pensamento dos napë”. Apresentamos reflexões não só conceituais, mas também empíricas decorrentes de um longo processo de projetar, construir e transformar duas escolas com as comunidades yanomami no alto rio Marauiá entre 2019 e 2023. (PS: Está prevista a presença de Sérgio e Maurício Yanomami em Belo Horizonte durante a RBA, ambos são interlocutores da pesquisa e mediadores de todo o processo da construção das escolas e poderemos contar com a participação de ambos na apresentação.)