Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 052: Estudos de Cultura Material: contribuições da Antropologia e da Arqueologia em um mundo mais-que-humano
A construção do campus na Pampulha: Fazenda Dalva, propriedades menores e o Lar dos Meninos (1944-1976)
O campus da UFMG está inserido na região da Pampulha em Belo Horizonte, em Minas Gerais, e muito já se
publicou sobre sua construção, ainda na lembrança de muitos moradores da jovem capital mineira. Nosso
interesse aqui é retomar esse evento, sob novas perspectivas, incluindo de forma robusta a arqueologia e a
antropologia.
Nosso foco de ação está delimitado em especial no que hoje é conhecido como Estação Ecológica da
Universidade Federal de Minas Gerais (EEco-UFMG), que, de acordo com nossos levantamentos abrigou diferentes
proprietários de terra, desapropriados para a construção da então Universidade de Minas Gerais (UMG). Nossa
narrativa conecta documentos escritos e imagéticos, construções e ruínas, divisa de propriedades e a memória
de diferentes pessoas que habitaram esses locais.
Parte da área comporta edificações e ruínas do antigo Lar dos Meninos, instituição religiosa e beneficente,
que abrigava crianças e jovens entre 7 e 18 anos, organizados em turma dos menores, médios e maiores; além
de instrutores leigos, padre, seminaristas e irmãs. Foi inaugurado no final de 1944 com direção de Vicente
Guimarães, conhecido como Vovô Felício. A partir de 1948, o Lar passou para os cuidados da Ordem Religiosa
dos Orionitas, com a liderança do Padre Nazareno (1948-1953). Os internos eram educados segundo os
princípios pedagógicos da ordem, que incluíam educação formal, religiosa e para o trabalho.
A região, conhecida pelas muitas obras de JK, apresenta uma enorme desigualdade de acautelamento entre os
bens patrimoniais da orla Lagoa da Pampulha, ligados diretamente às elites locais; e a história de mesma
época em área vizinha ligada à infância e à juventude economicamente vulneráveis.
O Lar do Meninos funcionou, por três décadas, onde hoje se encontra a EEco-UFMG, entretanto, a história
oficial pouco o menciona. Poucos também são os membros da comunidade universitária que o conhecem e ainda
menos os moradores da cidade. O contato com antigos moradores do Lar dos Meninos, a vivência no espaço e a
importância dessa infância e dessa memória para a construção da cidade de Belo Horizonte nos interessa nesse
projeto, para ecoar outras histórias locais. Importante indicar a grande olaria existente, posto que no Lar
dos Meninos, dentre os ofícios ensinados, havia a fabricação volumosa de tijolos e telhas de cerâmica (8 mil
a 12 mil por dia), e desejamos entender a distribuição desses materiais na construção da cidade.