Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 104: Visualidades Indígenas
Estéticas mbya da (r)existência
A partir do contexto atual de produção e circulação de filmes realizados por cineastas e coletivos
Guarani Mbya de cinema, e com especial atenção à atuação e perspectivas das mulheres guarani (kunhãgue) e de
seus modos próprios de ser, agir e se comportar (kunhãgue reko) nesses espaços, pretende-se oferecer nesta
comunicação algumas reflexões de minha pesquisa de Doutorado ainda em andamento, acerca das relações entre
cinema guarani, xamanismo e gênero. O cinema é tomado aqui como uma via de acesso ao xamanismo guarani que
não se reduz à figura masculina do xamã e estaria mais bem distribuído entre toda a coletividade e toda
sua diplomacia cosmopolítica, o que inclui as relações entre gêneros, contribuindo para o debate sobre o
lugar e importância das mulheres indígenas, em especial, as Mbya, e de suas próprias vozes e ações políticas
nessas esferas e nos filmes que realizam, valorizando e dando visibilidade a seus saberes e práticas
xamânicas na constituição e proteção do coletivo e de seu próprio mundo. Pois, se o xamanismo é o meio por
excelência de resistência mbya contra o Estado, o cinema guarani, enquanto um meio eficaz de se fazer ver e
ouvir para fora das aldeias na luta por direitos territoriais e sociais, poderia ser pensado como uma
estratégica xamânica renovada de resistência cultural e espiritual e expressão de sua ética e estética
cosmopolítica, capaz de oferecer em sua tradução-crítica xamânica dos modos de ver, ouvir-sentir e viver
não-indígenas (jurua reko), uma alternativa possível à política etnocida do mundo jurua, inspirando outros
modos de (r)existir, isto é, uma outra estética da (r)existência com a qual temos muito a aprender e nos
afetar para adiar o fim desse mundo.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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