Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 067: A Pesquisa Antropológica e os Estudos sobre violência em meio escolar: Críticas e Contribuições
Cidade de sombras: a produção subjetiva do mundo urbano em experiências de punição extraprisionais
O presente artigo desdobra questões de uma etnografia que se dedica a refletir sobre a produção do
espaço e do tempo no cotidiano de pessoas submetidas a formas de punição extraprisionais liberdade
provisória, regime aberto, livramento condicional, por exemplo. Puxando um dos fios da pesquisa, o texto
parte da ideia de que, nas margens do controle estatal, experiências de punição são organizadas ao redor de
um Estado difuso e disperso diferente daquele consubstanciado no espaço prisional, que oscila entre um modo
racional-burocrático e um modo mágico de ser (Das, 2004). Um poder que, mesmo quando parece ter suas leis e
respectivas formas de implementação distantes, é onipresente e irresistível, representado e executado por
meio de rumores, especulações, falsificações e representações miméticas. O texto dedica-se, então, a
responder: como as formas de habitar o espaço e tempo urbanos são reordenadas em função de um mundo marcado
pela incerteza, pelo medo e pelo exercício constante de antecipação dos modos operatórios da punição?
Partindo da experiência de pessoas que orbitam ao redor da Associação de Amigos e Familiares de Presos/as,
coletivo paulista dedicado ao acolhimento e mobilização política de pessoas afetadas pelo sistema de justiça
criminal, sugiro que o medo, localizado principalmente na antecipação de encontros com o Estado
materializado em suas instituições e agentes, estrutura a construção de mapas subjetivos da cidade e
informa a relação com o mundo urbano. Para além de informar fluxos, circuitos e fixações, o texto sugere que
a esquiva de um Estado que se coloca como ameaça afeta o acesso à dimensão de um Estado que é também
garantia, delimitando possibilidades de liberdade e, também, cidadania.