ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 067: A Pesquisa Antropológica e os Estudos sobre violência em meio escolar: Críticas e Contribuições
Cidade de sombras: a produção subjetiva do mundo urbano em experiências de punição extraprisionais
O presente artigo desdobra questões de uma etnografia que se dedica a refletir sobre a produção do espaço e do tempo no cotidiano de pessoas submetidas a formas de punição extraprisionais liberdade provisória, regime aberto, livramento condicional, por exemplo. Puxando um dos fios da pesquisa, o texto parte da ideia de que, nas margens do controle estatal, experiências de punição são organizadas ao redor de um Estado difuso e disperso diferente daquele consubstanciado no espaço prisional, que oscila entre um modo racional-burocrático e um modo mágico de ser (Das, 2004). Um poder que, mesmo quando parece ter suas leis e respectivas formas de implementação distantes, é onipresente e irresistível, representado e executado por meio de rumores, especulações, falsificações e representações miméticas. O texto dedica-se, então, a responder: como as formas de habitar o espaço e tempo urbanos são reordenadas em função de um mundo marcado pela incerteza, pelo medo e pelo exercício constante de antecipação dos modos operatórios da punição? Partindo da experiência de pessoas que orbitam ao redor da Associação de Amigos e Familiares de Presos/as, coletivo paulista dedicado ao acolhimento e mobilização política de pessoas afetadas pelo sistema de justiça criminal, sugiro que o medo, localizado principalmente na antecipação de encontros com o Estado materializado em suas instituições e agentes, estrutura a construção de mapas subjetivos da cidade e informa a relação com o mundo urbano. Para além de informar fluxos, circuitos e fixações, o texto sugere que a esquiva de um Estado que se coloca como ameaça afeta o acesso à dimensão de um Estado que é também garantia, delimitando possibilidades de liberdade e, também, cidadania.