Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 078: O campo biográfico-narrativo e a prática etnográfica: diálogos possíveis
Viver no mato e da terra no extremo sul da metrópole paulistana: trajetórias de luta e persistência dos
cidadãos do mato
Quase um quarto da maior metrópole da América do Sul possui características pouco imaginadas a partir
dos termos metrópole ou São Paulo. Seja pela forte presença de elementos rurais, pelos remanescentes de
mata atlântica, seja pela ocupação histórica dos Guarani Mbya. A pesquisa em curso lança luz sobre a
história do extremo sul a partir das trajetórias de distintos grupos sociais do território como contraponto
à história da cidade: que paulatinamente invisibilizou tanto essas pessoas como seu território.
Entre as oito pessoas entrevistadas, em sua maioria pequenos agricultores agroecológicos, é comum a
indicação do mato como o território no qual vivem ou querem viver. Se, por um lado, o temo mato alude a
aquilo que não se distingue, nem se valoriza como a vegetação nativa, agreste e inculta. Por outro, o mato
é reivindicado por elas como espaço de produção e reprodução de suas formas de vida. Estas formas de vida
não foram em geral reconhecidas ou desejadas ao longo do tempo pela história da cidade e seu planejamento.
Suas existências foram admitidas como possibilidade e valorizadas ao custo de muita persistência e
resistência. Assim, investigar as histórias dos agricultores e o lugar em que o mato costuma reinar e
vicejar desafia este tipo pejorativo de interpretação.
Quer-se debater os procedimentos metodológicos usados no trabalho de campo: 1. realização de entrevista
semiestruturada baseada na trajetória, redes de solidariedade, conhecimento agrícola e memória sobre a
história da terra em que cultiva; 2. realização da devolutiva, momento no qual a entrevista transformada em
narrativa em terceira pessoa é lida em conjunto com a pessoa para que ela avalize as informações; 3.
triangulação das narrativas (etapa em desenvolvimento), na qual a narrativa de uma pessoa se cruza com uma
outra, produzindo uma terceira. Além disso, a pesquisa histórica documental e bibliográfica aprofunda e
complementa o texto final. Entre os acervos consultados estão os de registro de imóveis, registro de
empresas, alguns processos judiciais, bem como o arquivo histórico municipal.
Essas trajetórias apontam para um espaço próprio, com formas específicas de vida no mato: a sua relação com
a agricultura, e seus modos de cooperação e suporte na luta por direitos para existir no mato. Abordar tais
narrativas tem por objetivo encontrar os aspectos comuns como cidadãos do mato que (re)existem dessa forma
na metrópole. A reconstrução histórica do lugar e da agricultura realça a dimensão cultural de suas formas
de vida. Ademais, indica uma visão de cidade mais inclusiva e sustentável: comprometida com valores
culturais e necessidades daqueles que mantém água limpa e produzem alimentos saudáveis para que possam
manifestar plenamente sua cidadania.
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