ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 078: O campo biográfico-narrativo e a prática etnográfica: diálogos possíveis
Viver no mato e da terra no extremo sul da metrópole paulistana: trajetórias de luta e persistência dos cidadãos do mato
Quase um quarto da maior metrópole da América do Sul possui características pouco imaginadas a partir dos termos metrópole ou São Paulo”. Seja pela forte presença de elementos rurais, pelos remanescentes de mata atlântica, seja pela ocupação histórica dos Guarani Mbya. A pesquisa em curso lança luz sobre a história do extremo sul a partir das trajetórias de distintos grupos sociais do território como contraponto à história da cidade: que paulatinamente invisibilizou tanto essas pessoas como seu território. Entre as oito pessoas entrevistadas, em sua maioria pequenos agricultores agroecológicos, é comum a indicação do mato como o território no qual vivem ou querem viver. Se, por um lado, o temo mato alude a aquilo que não se distingue, nem se valoriza como a vegetação nativa, agreste e inculta”. Por outro, o mato é reivindicado por elas como espaço de produção e reprodução de suas formas de vida. Estas formas de vida não foram em geral reconhecidas ou desejadas ao longo do tempo pela história da cidade e seu planejamento. Suas existências foram admitidas como possibilidade e valorizadas ao custo de muita persistência e resistência. Assim, investigar as histórias dos agricultores e o lugar em que o mato costuma reinar e vicejar desafia este tipo pejorativo de interpretação. Quer-se debater os procedimentos metodológicos usados no trabalho de campo: 1. realização de entrevista semiestruturada baseada na trajetória, redes de solidariedade, conhecimento agrícola e memória sobre a história da terra em que cultiva; 2. realização da devolutiva, momento no qual a entrevista transformada em narrativa em terceira pessoa é lida em conjunto com a pessoa para que ela avalize as informações; 3. triangulação das narrativas (etapa em desenvolvimento), na qual a narrativa de uma pessoa se cruza com uma outra, produzindo uma terceira. Além disso, a pesquisa histórica documental e bibliográfica aprofunda e complementa o texto final. Entre os acervos consultados estão os de registro de imóveis, registro de empresas, alguns processos judiciais, bem como o arquivo histórico municipal. Essas trajetórias apontam para um espaço próprio, com formas específicas de vida no mato: a sua relação com a agricultura, e seus modos de cooperação e suporte na luta por direitos para existir no mato. Abordar tais narrativas tem por objetivo encontrar os aspectos comuns como cidadãos do mato que (re)existem dessa forma na metrópole. A reconstrução histórica do lugar e da agricultura realça a dimensão cultural de suas formas de vida. Ademais, indica uma visão de cidade mais inclusiva e sustentável: comprometida com valores culturais e necessidades daqueles que mantém água limpa e produzem alimentos saudáveis para que possam manifestar plenamente sua cidadania.