ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 094: Saberes Localizados, escritas de si e entre os seus: desafios político-teóricos e metodológicos nas práticas etnográficas
Pelo, gordura e odor: branquitude e cisgeneridade materializadas
O presente trabalho tem como objetivo, através da experiência intelectual corporizada de ambas autoras e da bibliografia selecionada, identificar os cruzos e paralelos das violências que se escondem sob a égide do pacto narcísico da branquitude cisheternormativa’ (NASCIMENTO, 2023). Faremos isso dando atenção especial ao corpo e a algumas categorias de diferenciação que se materializaram enquanto marcas da colonialidade, como os pelos corporais (BRAZ, 2022), a distribuição de gordura corporal (NOVAIS; MACHADO, 2021) e os odores. A semântica do pacto evoca um entrelace de acordos no agir, no existir e também nos momentos/modos de classificação e percepção das alteridades. Assim, não são apenas as nossas concordâncias para com ele (o pacto) que faz a nossa permanência, dependemos de concordâncias terceiras. A pertença num acordo pode ter seus limites, pois para além das parecenças, as diferenças também são cruciais diante de um pacto bem estabelecido e materializado em diversas formas de opressão. Desta forma, a não plenitude dos espelhamentos resulta na ruptura de um pacto e por conseguinte na ausência da proteção que esse acordar pode lhe conferir? Lélia Gonzalez aciona o conceito de denegação em sua compreensão do racismo brasileiro enquanto algo ativado apenas na condição de ser negado. Num momento onde a cisgeneridade e a branquitude, apesar de devidamente conceituadas e engendradas por intelectuais e pelos movimentos sociais, percebemos que há articulações daquelus que acionam tais termos numa condição negatória de forma a arguir a sua suposta não pertença aos pactos que as estruturas proporcionam. Assim, a ideia de saberes localizados (HARAWAY, 1995) torna-se um exercício reflexivo contínuo ou uma citação desconexa? Se sim, para essa última, servira apenas como ferramenta de resgate da disciplina antropológica afetada após crítica pós-moderna? Este trabalho é profundamente marcado pela experiência de corpas que, apesar de diferentes, são afetadas de diferentes formas a partir das três categorias alocadas no título. Se a branquitude, a gordofobia e cisheteronormatividade andam de mãos dadas, não seria mais justo para todes que as proporções das violências sofridas no convívio enquanto diferença’ ou subjetividade Outra’, fossem resguardadas? Aqui não se trata de hierarquizar o sofrimento, mas sim, num movimento de tensionamento, refletir sobre os impactos de categorias que são materializadas em formas de opressão, por vezes sobrepostas, por vezes feitas opacas por marcadores de privilégio.