Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 012: Antropologia das Emoções
A economia moral da materialidade da dor na experiência social da fibromialgia
Este trabalho busca refletir e descrever os contornos da experiência social da fibromialgia, particularmente no que se refere à dinâmica moral para a comprovação coletiva da materialidade da dor. Isto é, o objetivo é descrever e compreender etnograficamente as racionalidades e as práticas produzidas no escopo das relações sociais e diante de especialistas de cura médica e popular que possibilitam a alguém adoecido provar que a dor que sente e narra é algo real e necessita de intervenções coletiva (reconhecimento, suporte econômico e emocional etc.) e em saúde (tratamento, explicação etc.) que se interconectam e se confundem.
A emergência da fibromialgia como uma doença crônica esteve envolvida em dinâmicas sociais que a definiram como uma doença de mulheres e alicerçada primeiramente em fundamentos psicológicos e, posteriormente, em uma apresentação fisiológica dos sintomas relevantes. Atualmente, e de modo crescente, trata-se de uma doença reconhecida que detém um diagnóstico que não se restringe a ouvir o paciente em anamneses e se expande ao exame de toques em pontos determinados do corpo que exponham ao médico a dor narrada.
Mesmo assim, a fibromialgia continua a desafiar a compreensão familiar sobre o adoecimento do parente e coletiva do trabalhador e do membro da comunidade em geral, principalmente porque a sua dor associada está, muitas vezes, invisível na superfície da pele e nas profundezas da fisiologia e antecede efeitos que restringem a mobilidade corporal. Pode-se perceber que há uma organização social das emoções que tem se constituído em uma economia moral que traduz e apresenta a dor sentida no corpo em sua materialidade visceral e liga profissionais, familiares e pacientes. No curso do itinerário terapêutico, como a dor é sentida e tornada visível no espaço das suas relações sociais? Se conforma aí uma linguagem da dor? Interessa-me observar como se administra corporalmente a dor e como essa materialidade implica-se em atitudes e técnicas corporais, tanto do adoecido como das pessoas partes da sua vida na conformação de biossocialdiades.
Este trabalho se baseia em pesquisa etnográfica em andamento desenvolvida a partir de uma Unidade Básica de Saúde do SUS, localizada no semiárido potiguar. Ao longo da observação participante, inicialmente nas dependências coletivas do postinho (sala de espera, corredores, calçadas etc.) e, posteriormente, em consultas e tratamentos com profissionais de saúde, têm-se buscado compreender a trajetória social que conforma a experiencia da fibromialgia. A isso se liga tanto a análise de documentos na forma de legislações e guias em saúde, quanto entrevistas de longa duração com gestores, médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, além das próprias pessoas que vivem com o adoecimento.