Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 081: Os limiares do corpo: a circulação de substâncias corporais e a produção de pessoas e relações
Síndrome dos Ovários Policísticos: experiências e substâncias em grupos no Facebook
O presente trabalho parte de discussões no campo do gênero, saúde, hormônios, internet e aprimoramento
de si. Como objetivo, busca investigar como os sintomas da Síndrome do Ovário Policístico (SOP) impactam as
mulheres, por meio da análise de discursos produzidos e compartilhados em grupos temáticos na rede social
Facebook. Esta pesquisa foi desenvolvida no âmbito do projeto Novas formas de circulação de conhecimento e
de acesso a tecnologias biomédicas: cenários contemporâneos para transformações corporais e subjetivas
(coordenado por Fabíola Rohden IFCH/UFRGS). A aposta deste trabalho é que as transformações corporais em
contextos que extrapolam o cuidado com a saúde, sobretudo a partir de procedimentos motivados pela busca do
aprimoramento de si, com foco nos contornos corporais e na performance física, não pode ser apartada das
interações e da produção de discursos acerca dos recursos biomédicos, tidos como inovadores e essenciais ao
bem-estar estético. Para tanto, partiremos de uma etnografia realizada entre 2020 e 2022, as quais tiveram
como foco o acompanhamento de publicações em grupos sobre Síndrome dos Ovários Policísticos no Facebook,
balizada com o conteúdo produzido por profissionais da área da saúde no Instagram e o mapeamento e leitura
de artigos da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) considerados relevantes para o
tema. A Síndrome dos Ovários Policísticos é tratada pelos profissionais da área da saúde como uma síndrome
endócrina, metabólica e reprodutiva que atinge entre 6% e 16% das mulheres em idade reprodutiva. Observa-se
um aumento no foco dedicado aos efeitos endócrinos da SOP, uma vez que se acredita que os sintomas decorrem
principalmente da resistência à insulina, ou seja, a dificuldade deste hormônio em facilitar a entrada da
glicose nas células. A resistência à insulina resulta em uma maior quantidade de testosterona livre no corpo
das mulheres, dificultando a ovulação, aumentando a irregularidade menstrual e desencadeando outros sintomas
característicos da síndrome, como o aumento de pelos, da acne e da queda de cabelo. Através da inserção nos
grupos, foi possível investigar as experiências das mulheres que enfrentam a SOP. É importante ressaltar que
essas vivências estão intimamente ligadas a aspectos estéticos, pois expressões como acne, excesso de pelos
e ganho de peso são interpretadas como indicadores do controle ou descontrole da síndrome. Nos relatos das
participantes, observa-se um grande descontentamento quando esses sintomas se manifestam de forma
exacerbada, revelando a associação da SOP a padrões tradicionais e restritos de beleza e feminilidade.