Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 086: Povos indígenas e experiências de construções biográficas
Histórias de mulheres e retomada: A intersecção entre gênero e memória coletiva Xokó
A história da retomada do território Xokó revela uma memória de mulheres produzida na luta. Essa memória
é compartilhada nos atos de cuidar, zelar os santos e entidades, no cultivo do arroz, na produção de
cerâmica, no ritual sagrado, na alfabetização do povo. Os atos de cuidar são uma memória prioritariamente
construída por e entre mulheres. Desde suas casas, elas seguiam o percurso do barreiro, daí para as lagoas -
onde tinham as plantações de arroz - passando pela igreja e pelo local do ritual sagrado. Dessa forma, suas
histórias perpassam e estão representadas em todo o território. Apesar das políticas de invisibilização,
quando a luta pela terra é narrada pelas mulheres, elas retomam um lugar da memória coletiva deixado à
margem e revelam novos personagens, modos de existência, performances e memória. O narrar remonta o
território do passado no presente e resgata histórias de resistência e protagonismos. Uma manutenção de si
na história. É também através da narrativa que elas começam a se auto perceberem donas da terra, como disse
Dona Dadinha ao final de uma trajetória de vários encontros. Narrar constrói presença e se torna, assim, uma
ferramenta não só de manutenção, mas de materialização de si na história. É na oralidade que elas se
percebem atuantes, pertencentes, donas também do enredo narrativo. As histórias de mulheres revelam assim
uma camada ainda mais profunda que se sobrepõe às suas narrativas, deflagrando a intersecção vivenciada pelo
gênero.
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