ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 086: Povos indígenas e experiências de construções biográficas
Histórias de mulheres e retomada: A intersecção entre gênero e memória coletiva Xokó
A história da retomada do território Xokó revela uma memória de mulheres produzida na luta. Essa memória é compartilhada nos atos de cuidar, zelar os santos e entidades, no cultivo do arroz, na produção de cerâmica, no ritual sagrado, na alfabetização do povo. Os atos de cuidar são uma memória prioritariamente construída por e entre mulheres. Desde suas casas, elas seguiam o percurso do barreiro, daí para as lagoas - onde tinham as plantações de arroz - passando pela igreja e pelo local do ritual sagrado. Dessa forma, suas histórias perpassam e estão representadas em todo o território. Apesar das políticas de invisibilização, quando a luta pela terra é narrada pelas mulheres, elas retomam um lugar da memória coletiva deixado à margem e revelam novos personagens, modos de existência, performances e memória. O narrar remonta o território do passado no presente e resgata histórias de resistência e protagonismos. Uma manutenção de si na história. É também através da narrativa que elas começam a se auto perceberem donas da terra”, como disse Dona Dadinha ao final de uma trajetória de vários encontros. Narrar constrói presença e se torna, assim, uma ferramenta não só de manutenção, mas de materialização de si na história. É na oralidade que elas se percebem atuantes, pertencentes, donas também do enredo narrativo. As histórias de mulheres revelam assim uma camada ainda mais profunda que se sobrepõe às suas narrativas, deflagrando a intersecção vivenciada pelo gênero.