Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 026: Antropologia, memória e eventos críticos
Cantos para Gaza: sons da diáspora palestina no contexto do genocídio de 2023
Este trabalho é um desdobramento da pesquisa de mestrado "Memórias palestinas: práticas sonoras de um exílio existencial", proposto a partir das novas necessidades metodológicas e analíticas suscitadas pelo contexto de genocídio em curso, perpetrado por Israel na Faixa de Gaza desde outubro de 2023. A pesquisa realizada em conjunto com músicos palestinos radicados na cidade de São Paulo, tem como objetivo compreender de que maneira os artistas atribuem significado à sua experiência de exílio permanente por meio de suas práticas sonoras e artísticas. A partir da noção de acustemologia, cunhada por Steven Feld (2012), a atenção está voltada para abordar o som em uma perspectiva ampla, propondo a reflexão acerca de como os espaços em que meus interlocutores vivem são sonoramente habitados e construídos, interessada por escutar histórias de escuta (Feld, 2020) e atenta aos temas da memória, tempo, som e exílio. No entanto, a revolta de Toofan Al-Aqsa, executada em 7 de outubro de 2023 pelas Brigadas Al Qassam, mudou de forma repentina e profunda o cenário político, histórico e social da Palestina, impactando a vida de milhões de palestinos em Gaza, Cisjordânia, nos territórios ocupados e ao redor do mundo em diáspora, comprovando que a Nakba não se encerrou em 1948. Busco a partir de etnografias do particular (Abu-Lughod, 2018) demonstrar como sonoridades e memórias estão a todo momento sendo convocadas diante de um evento crítico, onde assistimos o fracasso da gramática e a violência aniquiladora de mundo permear vidas e cotidianos (Das, 2020). A pesquisa em contextos sonoros e críticos é capaz de deslocar o antropólogo de sua posição clássica, exige novas demandas - torna-o por vezes aluno, platéia e ativista, desafiando hierarquias estabelecidas e exigindo novos engajamentos etnográficos.