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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 026: Antropologia, memória e eventos críticos
Por entre memórias étnicas, celebrações, patrimônio e turismo: observações etnográficas sobre diferentes contextos.
O objetivo deste trabalho é apresentar como a noção de memória étnica realçada pelas rotas de celebração da ancestralidade africana no Brasil tem tensionado o conceito de patrimônio e apontado para um diálogo interseccional com o turismo, as dinâmicas locais e a mercantilização da cultura. Tomo como ponto de partida dois contextos etnográficos distintos, que neste trabalho serão comparados à luz da teoria antropológica, visando destacar aproximações e distanciamentos analíticos e contextuais. São eles a zona portuária carioca com a Rota da Celebração da Herança Africana em torno da patrimonialização do Cais do Valongo e os movimentos culturais, étnicos e religiosos em torno da Igreja de São Benedito, em Cuiabá, Mato Grosso, a partir da Rota da Ancestralidade recentemente inaugurada. O processo de construção de uma memória étnica na região portuária do Rio de Janeiro, leva em consideração todo o processo desencadeado desde o projeto de revitalização empreendido pelo Porto Maravilha até a descoberta do Cais do Valongo e sua candidatura como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. O esforço reflexivo, neste sentido, passa pela análise das disputas e construções narrativas em torno de uma “memória preta territorial (termo advindo da fala nativa) e seus desdobramentos percebidos na construção de equipamentos de salvaguarda da memória da região popularmente denominada Pequena África. No que toca ao patrimônio cultural de uma área central de Cuiabá, capital de Mato Grosso, o espaço em questão compreende a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, entre o Morro da Luz e a Prainha, um dos marcos de fundação da cidade. Tomando a Igreja como ponto de partida, bem como os debates sobre o patrimônio local, compreendido em seu universo simbólico constituído a partir de uma igreja dedicada a um santo e às irmandades negras, interessa-nos observar como a proposição da Rota da Ancestralidade dialoga com o contexto brasileiro de reparação das memórias da escravidão. Entrelaçando tais contextos, este trabalho pretende realçar as análises acerca da Escravidão na Era da Memória e as formas pelas quais tal tema vai sendo aos poucos tomado por um movimento de mercantilização da cultura e da memória a partir do turismo.