Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 035: Cidades e citadinidades: questões de Antropologia Urbana
A cidade também são as bixas: Graffiti e Pixo como formas de biorresistência da juventude LGBTQIAPN+ teresinense
Em dezembro de 2021, o escritor Alex Sampaio presenteou-me com seu livro Ressuscito na Cidade Suicida. Na época, tivemos um breve diálogo sobre saúde mental da juventude teresinense, em específico sobre jovens LGBTQIAPN+. No livro, há uma Teresina que vive em meio ao abandono des sues habitantes, casas/prédios, patrimônio, Poti e Parnaíba (rios), animais e vegetação. A Cidade Suicida, nomeada por ele, é aquela que impõe obstáculos para aquelus que não devem pertencer a ela. Entendo que esse pertencimento é atravessado por desigualdades de raça, gênero, classe e corporalidades. Desta maneira, quando não se pertence, paga-se com a própria vida. Neste trabalho, tenho como objetivo evidenciar Graffiti e Pixo como formas de biorresistência de uma juventude LGBTQIAPN+ que tenta sobreviver em uma Cidade Suicida, a partir de diálogos com o livro de Alex, minhas experiências com a Bixaria Crew e o pixo-denúncia na Estação Ferroviária. Inicialmente, remeto ao início de janeiro em que a Bixaria saiu para um rolê na zona leste, no qual foram feitas intervenções com Personas, Bombs, Xarpis e duas frases: Salve as Bixas! e Salve as os es Trans. Nesse período, fazia menos de um mês que Palloma Amaral, travesti preta, havia sido assassinada com pedradas na cabeça. Naquela mesma semana em que a Bixaria riscou, alguém havia pixado a Estação Ferroviária de Teresina com a seguinte frase: Quem matou Paloma? O Estado. Em um portal de notícias, o que chama a atenção sobre os pixos na Estação é a degradação ao patrimônio público que está sendo restaurado. Em outro, no qual a foto do pixo sobre a morte de Palloma é usado como imagem da postagem, pede-se pela prisão de pixadores e o tratamento com o máximo rigor da lei por julgar-se ser um crime que prejudica toda a sociedade. Sobre a denúncia relativa à morte de Palloma, não se fala. O pixo é o vandalismo. A morte de mais uma travesti, não. Por último, destaco uma intervenção minha, na qual meu persona, no muro, diz: + 1 domingo, bixa!. Ademais, utilizo Agier (2011) para o conceito de rede ao comentar sobre conexões que possibilitaram o surgimento da Bixaria Crew e converso sobre formas de fazer cidade a partir do graffiti e pixo; Leite (2002) para as noções de lugar, uso, contra-uso dos espaços públicos e táticas; com Pereira (2020), adentro na discussão sobre pixo biorresistência e necropolítica em diálogo com as vidas precárias de Butler (2019), a heterosexualidade necropolítica de Preciado (2020) e a cisnormatividade como dispositivo do Biopoder (Foucault, 2008; Goulart e Nardi, 2022).