Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 090: Religiões afro-ameríndias entre Norte e Nordeste do Brasil: territórios, trânsitos e práticas
Abre a porteira, Exu! Deixa a mulher passar! - Maria Padilha, poder e perigo de uma Pombagira no Ceará
Naquela rua vai passando uma mulher. Essa mulher se chama Maria Padilha. Maria Padilha tem o perfume de
rosa. Maria Padilha é uma serpente venenosa. Eu não sei quem ela é. Eu não sei quem ela é. É uma serpente
venenosa que mordeu, matou. Laroyê! Salve Dona Maria Padilha da Estrada! Cantando seu ponto, fumando sua
cigarrilha e bebendo seu champanhe, Padilha entra no terreiro girando e gargalhando. As pessoas presentes
cantam e dançam com ela. A alegria e a fé marcam a presença de Maria Padilha na Cabana Tupinambá Guerreiro
das Águas Claras, terreiro de Umbanda localizado no bairro Granja Lisboa, periferia de Fortaleza-CE. Este
trabalho, de caráter etnográfico e com ampla produção de imagens, reflete sobre Maria Padilha, entidade do
panteão da Umbanda. Ela é da linha dos exus e pombagiras. Como uma Pombagira, Maria Padilha representa a
subversão dos valores morais. É uma mulher da rua, que nega a vida doméstica e a maternidade compulsória.
Por ser uma mulher que busca a liberdade é considerada perigosa em uma sociedade machista e misógina,
afinal, Padilha é insubmissa e não aceita ser mandada por ninguém. Assume, muitas vezes, o papel de amiga e
confidente atendendo umbandistas e clientes para resolver assuntos relacionados ao amor, a emprego, a saúde,
entre outros. Conforme Augras (2009) são figuras transgressoras que estão sempre invertendo os valores
prezados pela boa sociedade. Suas festas são plenas de alegria, brilho, vibração e muita energia, como
indica o trabalho de Cavalcante (2018) sobre Maria Padilha de Mãe Iara Cavalcante, do Centro de Umbanda Rei
Dragão do Mar, em Fortaleza-CE. A Festa da Padilha de Pai Jonas não é diferente, sendo preparada com muito
esmero para a satisfação da entidade e de seus convidados e convidadas. Maria Padilha é considerada a mulher
do diabo como desvela vários de seus pontos: Abriu-se as porteiras do inferno pra besta fera passar, sendo
ela Maria Padilha, sendo ela a mulher do diabo. Abre a porteira, Exu! Deixa a mulher passar! É a Padilha,
Exu! Deixa a mulher passar!; Padilha, soberana da rua. Padilha, seu feitiço tem axé. Mas ela é a rainha da
encruza, ela é rainha da Quimbanda, ela é mulher de Lucifer. Entretanto, ser a mulher do diabo não
significa, necessariamente, ser uma entidade do mal. O trabalho de campo mostra que Maria Padilha está mais
perto das esferas do poder do que das esferas do mal, portanto, ela é uma experiência de mulher que trabalha
espiritualmente para que seus fieis e admiradores conquistem seus desejos. Este trabalho faz parte da minha
pesquisa do doutoramento no Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Estadual do Ceará (UECE)
e é apoiado pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP).