Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 090: Religiões afro-ameríndias entre Norte e Nordeste do Brasil: territórios, trânsitos e práticas
Não deixe de ir no Homem de Branco: Relações entre espiritualidade e conhecimentos/práticas biomédicas
no Culto à Jurema Sagrada
O presente trabalho propõe estabelecer reflexões sobre as relações entre espiritualidade e prática
biomédica, que são estabelecidas pelos praticantes do Culto à Jurema Sagrada, expressão religiosa de raiz
afroameríndia, derivada e inserida em um complexo polissêmico mais amplo que orbita em torno da planta
denominada Jurema (gêneros Mimosa, Acácia e Pithecelobium). O fio que conduz estas reflexões são os dados de
campo da pesquisa de mestrado intitulada "Jurema, sua folha cura e sua flecha mata": os sentidos de saúde e
doença na Jurema Sagrada (Justino, 2016). A doença, pensada aqui enquanto episódio crísico (Morin, 1995),
expressa a possível viabilização da desordem do sistema social, estabelecendo incertezas e potencializando
os elementos desagregadores anteriormente presentes, oferecendo riscos à integridade da comunidade. Deste
modo, percebemos que os modos de lidar com o episódio da doença, entendidos aqui enquanto drama social
(Turner, 2005, 2013, 2015), desencadeiam uma série de ações e reações individuais e coletivas que
estabelecem pontos de contato conflituosos ou não - entre as práticas médicas e a Ciência da Jurema,
conhecimento/energia detido pelos juremeiros. Um elemento fundamental e para o qual direcionamos o foco
desta análise - é a intervenção direta dos Mestres e Mestras, entidades que, quando em vida, tiveram
contanto com a Jurema e seu conhecimento, voltando à terra para completar suas evoluções a partir do
trabalho espiritual (Justino, 2016). Para além da intervenção ritual, os Mestres e Mestras são, por vezes,
elementos ativos no itinerário terapêutico dos doentes, incentivando por vezes ordenando a procura de
assistência dentro do sistema de saúde biomédico. Sendo assim, é possível perceber que a relação
estabelecida para resolução da crise da doença é de complementaridade, com práticas que adquirem um caráter
sinérgico aos olhos dos juremeiros, reafirmando, em um mesmo movimento, crença no conhecimento médico o
homem de branco, na linguagem dos Mestres - e na força da Jurema enquanto base de sentido da experiência e
enquanto possibilidade de intervenção.