ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 090: Religiões afro-ameríndias entre Norte e Nordeste do Brasil: territórios, trânsitos e práticas
“Não deixe de ir no Homem de Branco”: Relações entre espiritualidade e conhecimentos/práticas biomédicas no Culto à Jurema Sagrada
O presente trabalho propõe estabelecer reflexões sobre as relações entre espiritualidade e prática biomédica, que são estabelecidas pelos praticantes do Culto à Jurema Sagrada, expressão religiosa de raiz afroameríndia, derivada e inserida em um complexo polissêmico mais amplo que orbita em torno da planta denominada Jurema (gêneros Mimosa, Acácia e Pithecelobium). O fio que conduz estas reflexões são os dados de campo da pesquisa de mestrado intitulada "Jurema, sua folha cura e sua flecha mata": os sentidos de saúde e doença na Jurema Sagrada (Justino, 2016). A doença, pensada aqui enquanto episódio crísico (Morin, 1995), expressa a possível viabilização da desordem do sistema social, estabelecendo incertezas e potencializando os elementos desagregadores anteriormente presentes, oferecendo riscos à integridade da comunidade. Deste modo, percebemos que os modos de lidar com o episódio da doença, entendidos aqui enquanto drama social (Turner, 2005, 2013, 2015), desencadeiam uma série de ações e reações individuais e coletivas que estabelecem pontos de contato – conflituosos ou não - entre as práticas médicas e a Ciência da Jurema”, conhecimento/energia detido pelos juremeiros. Um elemento fundamental – e para o qual direcionamos o foco desta análise - é a intervenção direta dos Mestres e Mestras, entidades que, quando em vida, tiveram contanto com a Jurema e seu conhecimento, voltando à terra para completar suas evoluções a partir do trabalho espiritual (Justino, 2016). Para além da intervenção ritual, os Mestres e Mestras são, por vezes, elementos ativos no itinerário terapêutico dos doentes, incentivando – por vezes ordenando – a procura de assistência dentro do sistema de saúde biomédico. Sendo assim, é possível perceber que a relação estabelecida para resolução da crise da doença é de complementaridade, com práticas que adquirem um caráter sinérgico aos olhos dos juremeiros, reafirmando, em um mesmo movimento, crença no conhecimento médico – o homem de branco”, na linguagem dos Mestres - e na força da Jurema enquanto base de sentido da experiência e enquanto possibilidade de intervenção.