Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 043: Desenvolvimento e conflitos socioambientais: práticas de apropriação territorial e alternativas transformadoras
O medo virou rotina: Terrorismo de barragens no município de Itabirito/MG
Nos últimos anos, recorrentes desastres e ameaças envolvendo rompimentos de barragens de rejeitos da mineração têm sido vivenciados em Minas Gerais, sobretudo na região do Quadrilátero Ferrífero, conhecida pela intensa exploração minerária (ZHOURI, 2023). A priori, os grandes empreendimentos neoextrativistas deveriam atestar a segurança das barragens de rejeito de minério mas, atualmente, nota-se a partir de casos empiricamente delineados (LASCHEFSKI, 2020), recorrentes falhas de gestão que instauram um estado de temor nas comunidades de Itatiaiuçu, Barão de Cocais, Macacos, Nova Lima, Ouro Preto, Itabira, Itabirito, Congonhas e Rio Preto.
O terrorismo de barragens, isto é, a transformação dos territórios em zonas de terror, de instabilidade e risco, e a sua marcação através de placas indicando rotas de fuga e pontos de encontro no caso de rompimento de barragem, simulações e evacuações, sirenes disparadas para treinamentos e indicações de Zonas de Autosalvamento (ZAs), sendo muitas vezes localizados e acontecendo em escolas, como o atestado pela moradora I.B., que já participou de simulados de evacuação de emergência e acompanhou o erguimento de tendas da Vale no Instituto Federal de Ciências e Tecnologia (IFMG), é a realidade de muitos dos municípios do estado. Além disso, falhas e lacunas nos estudos dos Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM) e nos de Dam Break integram, também, o processo de produção sistemática de terror, colocando as populações em situações de perigo e vulnerabilidade.
O município de Itabirito/MG continua sendo palco de um ideário desenvolvimentista que explora, de maneira descontrolada, os recursos naturais, visando a exportação de commodities e o lucro (ZHOURI, 2023). O Pico de Itabirito é o principal ponto minerário da cidade, sendo destacadamente minerado por grandes empreendimentos, como a Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), que desde 1940 explora minério de ferro no Pico, a Herculano Mineração, Gerdau, Vale e CSN. Devido a isso, a população sofre, cotidianamente, com o terror causado pela iminência do rompimento de barragens, chegando ao ponto do medo ter caído na rotina, ou melhor, o medo virou rotina, como dito pela moradora D.M., através de entrevista semi-estruturada.
A partir disso, o poder político das mineradoras se intensifica constituindo, assim, um poderoso lobby a dominar o cenário político do estado e do país (ZHOURI, 2023, p. 15), e promovendo, paralelamente, o esvaziamento, a apropriação e o controle de territórios de interesse. Diante do exposto, o presente trabalho procura verificar a forma como o terrorismo de barragens surge no cotidiano das pessoas, a partir do município de Itabirito/MG.