ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 055: Etnografias de processos de resistência de povos indígenas em Estados e governos de exceção
Excepcionalidade do Estado e Políticas de Reparação: uma reflexão a partir da (cosmo)política de memória Xakriabá
Partindo de uma etnografia centrada na perspectiva do povo indígena Xakriabá a respeito da ditadura militar o tempo da guerra ou da luta pela terra objetiva-se refletir sobre uma forma particular de exercício da política, que chamaremos (cosmo)política de memória. As violências do tempo da guerra são compreendidas e agenciadas por um conjunto múltiplo de seres, que incluem os corpos indígenas, a cultura e os gerais (Cerrado), entre outros. O enfrentamento a essa guerra mobilizou um processo complexo de retomadas, em movimentos de reativação da memória do território (Célia Xakriabá). Esse processo segue assumindo significativa importância para os Xakriabá, revelando o que poderíamos chamar de uma pedagogia resistente movimentos ativos, conectados às estratégias de luta territorial e à narrativa de verdadeiras histórias implicando, como diz seu Valdemar Xakriabá, o pequeno, até quem ainda não nasceu, ou que não sabe onde tá, já que todos têm parte nessa luta de sangue derramado”. Os diferentes elementos dessa pedagogia, além da produção de uma narrativa contracolonial e contramestiça, colocam-se a serviço de um devir da possibilidade de continuidade da vida e do bem viver no território e se expressam, por exemplo, nos espaços de reflexão, que anualmente recordam a chacina das lideranças Xakriabá nos anos 1980. Do ponto de vista do Estado, essa violência foi justificada a partir da negação da indianeidade Xakriabá em virtude de seu relacionamento com povos quilombolas - o que retiraria seu estatuto de "verdadeiros indígenas". Essa discussão pode trazer elementos para a proposição do que pode significar uma política de reparação para o caso dos povos indígenas, como também a uma leitura sobre as formas pelas quais alguns povos indígenas veem se relacionando com os passados e presentes violentos e com a excepcionalidade da política que ataca seus territórios.