Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 055: Etnografias de processos de resistência de povos indígenas em Estados e governos de exceção
Excepcionalidade do Estado e Políticas de Reparação: uma reflexão a partir da (cosmo)política de memória
Xakriabá
Partindo de uma etnografia centrada na perspectiva do povo indígena Xakriabá a respeito da ditadura
militar o tempo da guerra ou da luta pela terra objetiva-se refletir sobre uma forma particular de exercício
da política, que chamaremos (cosmo)política de memória. As violências do tempo da guerra são compreendidas e
agenciadas por um conjunto múltiplo de seres, que incluem os corpos indígenas, a cultura e os gerais
(Cerrado), entre outros. O enfrentamento a essa guerra mobilizou um processo complexo de retomadas, em
movimentos de reativação da memória do território (Célia Xakriabá). Esse processo segue assumindo
significativa importância para os Xakriabá, revelando o que poderíamos chamar de uma pedagogia resistente
movimentos ativos, conectados às estratégias de luta territorial e à narrativa de verdadeiras histórias
implicando, como diz seu Valdemar Xakriabá, o pequeno, até quem ainda não nasceu, ou que não sabe onde
tá, já que todos têm parte nessa luta de sangue derramado. Os diferentes elementos dessa pedagogia, além
da produção de uma narrativa contracolonial e contramestiça, colocam-se a serviço de um devir da
possibilidade de continuidade da vida e do bem viver no território e se expressam, por exemplo, nos espaços
de reflexão, que anualmente recordam a chacina das lideranças Xakriabá nos anos 1980. Do ponto de vista do
Estado, essa violência foi justificada a partir da negação da indianeidade Xakriabá em virtude de seu
relacionamento com povos quilombolas - o que retiraria seu estatuto de "verdadeiros indígenas". Essa
discussão pode trazer elementos para a proposição do que pode significar uma política de reparação para o
caso dos povos indígenas, como também a uma leitura sobre as formas pelas quais alguns povos indígenas veem
se relacionando com os passados e presentes violentos e com a excepcionalidade da política que ataca seus
territórios.
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