Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 035: Cidades e citadinidades: questões de Antropologia Urbana
Usos (da) e trajetos em pequenas cidades. Mulheres tecendo o urbano a partir da coleta de resíduos sólidos no Maciço de Baturité, Ceará.
Ana Luiza Rosendo da Conceicao (UNILAB), Jacqueline Britto Pólvora (UNILAB)
Neste trabalho propomos uma reflexão sobre os usos e os percursos de mulheres trabalhadoras com a coleta de resíduos sólidos em contexto de cidades pequenas, a partir de dados iniciais da pesquisa que desenvolvemos na região do Maciço de Baturité, interior do estado do Ceará. Para tanto, lançamos mão de parte da literatura produzida sobre gênero para pensar no intercruzamento das mulheres, seu trabalho e o espaço urbano. Piscitelli (2009, p.125) em seu livro sobre a história da problematização a categoria de gênero, demonstra teoricamente a necessidade de articularmos outros marcadores sociais da diferença, como raça e classe, para que, desse modo, sejam tratadas as especificidades e diferenças com o devido respeito e equidade. Nesta perspectiva, temos como objetivo problematizar a posição de gênero nos espaços urbanos e analisar a intersecção entre “ser mulher trabalhadora” e a ocupação dos espaços na cidade. Desse modo, os papéis das mulheres em seu cotidiano são observados e problematizados a partir da ocupação dos espaços públicos e das posições de agência de mulheres dentro da estrutura socialmente masculina e desigual. Assim, pensamos sobre a ocupação de mulheres nos espaços urbanos a partir da reflexão sobre o seu mundo do trabalho, incluindo questões sobre suas atividades cotidianas. O contexto da pesquisa e características específicas como o ethos e a personalidade da pesquisadora e pesquisados, atribuídas as devidas ressalvas, são indicados pela antropóloga Mariza Peirano (1992), como aspectos importantes do fazer antropológico, então acrescentamos que experiências de vida e afetos nos movem também textualmente na Antropologia, assim como o próprio método. Dessa forma, localizar mulheres agentes da pesquisa, dentro de seus contextos, é imprescindível para explicar o mundo de vida das interlocutoras em suas próprias lógicas e termos. Pensamos também na importância da interdisciplinaridade da antropologia para ampliar a pesquisa e neste sentido, apoiamo-nos também na arquiteta Leslie Kern (2021) e pensamos como central em nossa análise sobre os lugares das mulheres nas cidades pequenas. Este estudo se justifica pela necessidade de identificar as especificidades de ser mulher em contextos urbanos pequenos e apontar os enfrentamentos do cotidiano de vida das mulheres que constroem a cidade de forma ativa através do trabalho de coleta de resíduos sólidos e suas formas diversas para viver na cidade Acarape, interior do Estado do Ceará.
Palavras-chave: gênero; trabalho; cidade