Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 008: Antropologia da Arte
Reativar a catástrofe, descobrir onde pisar: proposições ontológicas no pensamento estético japonês pós-2011
A presente comunicação pretende apresentar a pesquisa realizada pelo autor, com campo no Japão, durante o doutorado em Antropologia Cultural (PPGSA/IFCS/UFRJ) sob a orientação da Profa. Dra. Els Lagrou e que originou a tese defendida em agosto de 2023. A referida pesquisa objetivou uma análise antropológica acerca das implicações estético-ontológicas em parte da arte japonesa contemporânea produzida após (e compondo com) o triplo desastre de 2011. Tomando como ponto de partida a importância fundamental da arte como forma de compreensão da catástrofe, a etnografia se estabeleceu como o resultado de reflexões produzidas em-e-sobre um campo profícuo de tensões, paradoxos, afetos e traumas cuja potência é situada por uma dinâmica de constantes transformações e ressignificações. Verificou-se que o poder devastador da catástrofe e as consequentes possibilidades de reconstrução – ou reinterpretação – do mundo representaram no Japão uma profunda transformação estética, política e social que pode ser compreendida através das obras criadas no contexto artístico pós-2011, relacionando-se assim não apenas a questões climáticas e ambientais e aos debates contemporâneos sobre o antropoceno, mas também com aspectos sociais, culturais e cosmológicos, reafirmando sua indissociabilidade e possibilitando a reflexão sobre novas formas de existência humana em um mundo devastado. Sugerimos que a arte produzida em-e-sobre o triplo desastre de 2011, através do seu potencial interpretativo e de articulação com os animismos japoneses ressignificados pelos desastres ambientais da história recente do Japão, pode ser entendida como uma forma de resistência, uma subversão da ordem estabelecida pela radioatividade que torna a arte japonesa contemporânea um movimento político e cosmológico em busca de um possível futuro pós-nuclear e menos violento. Busca-se, desta forma, não apenas divulgar os resultados obtidos após a defesa da tese mas, também, articular novas possibilidades de reflexão e atuação no campo da antropologia da arte e dos estudos japoneses no Brasil.
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