Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 069: Maternidades Violadas: desigualdades, violências e demandas por justiça e direitos
Yo he venido a este país por mi hijo: os impactos da deficiência e do cuidado no exercício da
maternidade e das relações familiares em um contexto migratório
Ao investigar as trajetórias de migrantes, percebemos como as questões raciais, geracionais, de gênero,
classe e deficiência atravessam o processo migratório, produzindo intersecções articuladas em uma rede de
relações (Assis, 2011). A migração tem implicações não apenas no ponto de vista das políticas migratórias
nos países de destino, os países de origem também enfrentam os efeitos desse fenômeno. Considerar a
realidade daqueles que ficam nos países de origem, possibilita explorar como a migração pode desencadear
novas relações sociais, de uma forma geral, e especificamente, no âmbito familiar e de cuidado.
Dessa forma, buscamos com este artigo analisar uma trajetória migratória marcada por um acidente que
aconteceu a um migrante hondurenho indocumentado após dois anos de sua chegada aos Estados Unidos. Este
migrante sofreu uma lesão medular, consequência de uma tentativa de suicídio dentro de uma penitenciária.
Ele perdeu os movimentos do corpo, a fala e está acamado há mais ou menos 10 anos, sendo cuidado por sua
família, principalmente sua mãe. Nesse sentido, nosso objetivo é analisar como a migração e a deficiência
adquirida reestruturam as relações familiares (Assis, 2011) e de cuidado (Guimarães, Hirata, 2020),
colocando em evidência o protagonismo e a agência dessa mãe na luta pelo reconhecimento do seu direito de
exercer uma maternidade e um cuidado que denominamos transnacionais (Pedone, 2017).
Os dados apresentados neste artigo foram produzidos pela pesquisa Salud mental y mujeres migrantes
retornadas con discapacidad y mujeres cuidadoras de migrantes retornados con discapacidad, resultado de uma
parceria entre o Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios e a Pastoral de Movilidad Humana (PMH) de
Honduras. Essa pesquisa buscou investigar os impactos dos acidentes ocorridos na rota migratória na vida de
mulheres migrantes e mulheres cuidadoras, em sua maioria mães ou esposas de migrantes retornados com
deficiência. Além de pesquisa bibliográfica e análise dos dados de atendimento fornecidos pela PMH (Botega,
2022), foram realizadas 10 entrevistas virtuais com mulheres retornadas com deficiência e cuidadoras de
familiares retornados com deficiência, bem como a observação participante dos grupos de apoio a mulheres,
entre os meses de dezembro de 2021 e março de 2022.
Nosso interesse é compreender como essa ruptura na trajetória de mobilidade e de vida, não apenas
interrompem o sonho americano e o projeto migratório, mas reestruturaram as relações familiares, de cuidado,
com o corpo, os afetos e a espiritualidade. Nos interessa entender como essas mulheres refizeram suas vidas
após o trauma, a deficiência adquirida e a deportação.