Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 070: Memórias sensíveis, contramemórias e patrimônios incômodos: políticas, suportes e narrativas nas cidades
Tessitura patrimonial: reflexões sobre gerenciamento de territórios, populações e memórias
As imagens das cidades são construídas por intencionalidades, onde os patrimônios culturais desempenham
um papel fundamental ao determinar o que deve ser lembrado e o que permanecer como bem ordinário na rotina
urbana de uma cidade (Araújo, 2015). Petrópolis é reconhecida como a Cidade Imperial, um título que nutre
orgulho em grande parte da população e impulsiona o mercado e o turismo por evocar a importância da cidade
no período monárquico brasileiro. A maioria dos patrimônios culturais tombados pelo Instituto do Patrimônio
Histórico Artístico Nacional (IPHAN) na cidade está associada a essa época, incluindo palácios, igrejas e
jardins ligados à família real e à elite que a cercava. Porém, também há também outros patrimônios que
destoam dessa imagem. O trabalho apresentado neste grupo de trabalho focaliza um desses patrimônios: a Vila
Operária de Cascatinha, uma das primeiras habitações coletivas a serem tombadas no Brasil, integrante de um
conjunto fabril localizado no bairro de Cascatinha.
O bairro, situado fora do Centro Histórico onde se encontram os patrimônios relacionados à imagem Imperial,
possui uma origem popular e representa um período da história brasileira após a queda da monarquia. Este
patrimônio cultural não está incluído no circuito histórico-turístico da cidade. As casas são habitadas por
camadas médias populares, descendentes de operários e outros estratos da classe trabalhadora, que
reivindicam o direito de modificar suas propriedades, tornando-se um ponto de conflito para o IPHAN. Dessa
forma, a Vila Operária de Cascatinha tornou-se um patrimônio indesejável tanto para o IPHAN, devido à
administração conflituosa com os moradores, quanto para moradores, que enfrentam restrições em relação a
alterações em suas residências sem a devida autorização do órgão de patrimônio. Dessa maneira, o objetivo do
trabalho é analisar as ambiguidades das práticas e discursos do patrimônio no contexto da vila, buscando
compreender os feixes de poder, seus mecanismos, técnicas, dispositivos e atores, que engendram e promovem a
gestão das políticas de memória e a manutenção do bem como patrimônio cultural em situações não
conciliatórias, em que as formas de resistência nos informam como o poder é operado.
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