Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 054: Etnografia da e na cidade: o viver no contexto urbano em suas formas sensíveis
Tecendo um outro centro narrativo: Arte política, memória e sensibilidade nas ruas de Belém do Pará
O fazer artístico que evoca coletividades de bairros periferizados tem se tornado uma forma de agir
através de ferramentas criativas para (re)configurar novas imagens sobre/a partir de seu espaço de
habitação, circulação e lazer, repleto de histórias. Com base na etnografia de rua (Eckert; Rocha, 2013) que
venho realizando, neste texto, parto das observações de vivências, relatos e imagens de habitantes de
bairros de Belém do Pará que vêm transformando suas ruas, seus lugares de trânsito cotidiano a partir de
artes visuais, performances, música, audiovisual, entre outras maneiras de ocupar a cidade sonora e
visualmente. As expressões do sensível tornam-se produtos carregados de narrativas sobre vivências
periféricas, questões de raça, de classe e que convergem no viver a cidade, suas relações com este espaço,
permeadas por afeto, mas também por descaso e violência, memórias de pertencimento, mas também de dor.
Historicamente, existem as práticas coletivas como forma de construção do viver e fazer-cidade (Agier,
2015), quando se trata de áreas periferizadas. O que estas pessoas vêm fazendo com maior frequência é criar
suas formas de recontar estas narrativas, criar outras memórias e reelaborar cotidianamente as referências
hegemônicas. Deste modo, pelo aspecto do sensível emergem outras configurações de imaginário, outros
símbolos são evocados e tomados como importantes para contar estas histórias, que antes eram eclipsadas por
imagens elaboradas por centros (sejam eles econômicos, de poder ou geográficos). Notamos, assim, a
intrínseca natureza política dessas práticas artísticas para cidadãos tão periféricos quanto seus
territórios.