Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 033: Cartas, cartografias, confabulações e outras correspondências antropoéticas
Carta para o meu filho Arthur ou Como chegamos na Aldeia A'Ukre
Uberlândia, 15 de março de 2024.
Oi meu filho!!
Hoje eu resolvi fazer uma carta para você. Fui inspirada pela Valéria, professora querida, e o Sensibilidades Antropológicas, o projeto dela, que tem o podcast que eu estava ouvindo e gostando tanto, lembra? Com alguns episódios de cartas sonoras.
Quando eu pensei em escrever uma carta, a primeira pessoa que me veio foi você
meu filho. Eu escrevi uma carta para você não tem muito tempo, né? Foi quando a escola propôs, e eu achei muito legal. Ficou tão grande, ne? Você comentou. Quando a gente pára para escrever uma carta para alguém, vem tanta coisa que a gente quer falar, acaba que rende! A carta que eu escrevi foi uma carta de finalização do ciclo do fundamental I na escola. Agora essa carta eu quero falar sobre a nossa viagem para a aldeia AUkre. Em 2017, eu estava indo para fazer o trabalho de campo da minha dissertação. Era minha terceira visita à aldeia e eu levei você, então com 4 anos, completando 5. Você lembra um pouco, ne?
Eu queria falar um pouco sobre a nossa viagem nesta carta, como chegamos na aldeia AUkre. Eu fui a primeira vez para a aldeia em 2014, você estava com 1 ano e 8 meses. Na época, lançaram um edital para um curso de campo lá. Eu estudava, então, educação. Era o tema que eu escolhi pesquisar no meu trabalho de conclusão de curso. E teve muito a ver com você a escolha desse tema, inclusive, né? Antes de você nascer, eu pensava em estudar algo relacionado a religião no trabalho de conclusão de curso. Mas com a sua vinda, sua chegada na minha vida, cada vez mais eu tive interesse em entender, estudar mais sobre educação e infância.
O tema do meu TCC foi educação escolar infantil. O que tem muito a ver com você ter entrado na escola com 1 aninho. Era uma EMEI, Escola Municipal de Educação Infantil. Para que eu pudesse continuar meu curso de Ciências Sociais e trabalhar no turno da tarde. Como você, muitas crianças entravam na escola ainda bebês, a partir dos 4 meses. As vagas eram concorridas e tinha lista de espera. Eu me interessei por pesquisar mais sobre esse tema da educação escolar de bebês.
Nessa época, pouco após o período que fiz trabalho de campo em uma escola infantil, foi lançado um edital com bolsa para um curso de campo na aldeia Kayapó AUkre. Eu fiquei interessada, me inscrevi e deu certo!
Eu achei incrível como as crianças da aldeia, já a partir de uns cinco anos, andam em grupos com outras crianças com muita liberdade, brincando no rio, nas trilhas, nas árvores, no pátio da aldeia e nos arredores das casas.
(Continua
)