ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 056: Etnografias do catolicismo: práticas, rituais, experiências e trajetórias em perspectiva
Enfrentando o Dragão do Apocalipse”: para não esquecer, colocar uma romaria na rua em uma cidade minerária reflexões sobre a 5ª Romaria das Águas e da Terra da Bacia do Rio Doce
Concebidas no bojo de um conjunto de outras ações realizadas para não esquecer um evento crítico o rompimento da Barragem de Fundão, da Samarco (Vale/BHP Billiton), em Mariana (MG) em novembro de 2015 e propor um outro modelo para que a tragédia não se repita, as Romarias das Águas e da Terra da Bacia do Rio Doce (RATBRD) são romarias itinerantes de denúncia ao modelo mineral brasileiro e anúncio de uma outra ecologia”. Organizadas por alguns setores do campo progressista da Igreja Católica em parceria com movimentos sociais e religiosos diversos, tais romarias tematizam a água e a terra a partir de uma perspectiva heurística religiosa-política que parte de uma ética ambiental holística e integral sem esquecer a opção preferencial pelos pobres que orienta historicamente a prática desses coletivos, onticamente expressa nas demandas das populações atingidas pelo desastre-crime. Desde sua primeira edição em 2016, as RATBRDs ocorrem a cada ano em uma paróquia de alguma das dioceses da Bacia do Rio Doce. Tendo em vista essa circulação por diversos locais, é objetivo neste trabalho pensar a situcionalidade e as tensões que envolveram o fazer romaria a partir da descrição e análise do planejamento, construção e viabilização do percurso por onde passou a 5ª RATBRD, ocorrida em setembro de 2022 em Conceição do Mato Dentro (MG), Diocese de Guanhães, e dos sentidos atribuídos para o caminho e os pontos de parada durante a caminhada. Conceição é um município banhado pelo rio Santo Antônio afluente do Rio Doce, local de peregrinação transformado por conflitos socioambientais desde a implantação do projeto minerário Minas-Rio da Anglo American, para onde todos os anos se dirigem milhares de romeiros/as para um centro de devoção, o Santuário do Senhor Bom Jesus do Matosinhos. Dito isso, através de uma análise do diário de campo, das conversas e discurso públicos e das fotografias produzidas em campo dos momentos pré, intra- e pós-romaria, buscarei analisar como o espaço conçeiçonese foi transformado para fazer o sagrado (sacra facere), produzir devoção e, ao mesmo tempo, uma crítica social à mineração predatória. Interessa refletir: Como o caminho escolhido para a 5ª RATBRD fez a romaria e vice-versa? Quais foram os agenciamentos materiais? Quais as materialidades e sentidos emergiram durante a caminhada da concentração até o Santuário? Como o Senhor Bom Jesus do Matosinho, o rio Santo Antônio, o contexto minerário local e seus conflitos foram motivos para a caminhada e sentidos da romaria? Com isso, espera-se contribuir com o debate sobre a produção de memória e espaços sagrados que afetam os fiéis e visitantes, ressignificam o espaço e reconfiguram as cidades; bem como refletir sobre as relações entre religião e política.