Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 056: Etnografias do catolicismo: práticas, rituais, experiências e trajetórias em perspectiva
Enfrentando o Dragão do Apocalipse: para não esquecer, colocar uma romaria na rua em uma cidade
minerária reflexões sobre a 5ª Romaria das Águas e da Terra da Bacia do Rio Doce
Concebidas no bojo de um conjunto de outras ações realizadas para não esquecer um evento crítico o
rompimento da Barragem de Fundão, da Samarco (Vale/BHP Billiton), em Mariana (MG) em novembro de 2015 e
propor um outro modelo para que a tragédia não se repita, as Romarias das Águas e da Terra da Bacia do Rio
Doce (RATBRD) são romarias itinerantes de denúncia ao modelo mineral brasileiro e anúncio de uma outra
ecologia. Organizadas por alguns setores do campo progressista da Igreja Católica em parceria com
movimentos sociais e religiosos diversos, tais romarias tematizam a água e a terra a partir de uma
perspectiva heurística religiosa-política que parte de uma ética ambiental holística e integral sem esquecer
a opção preferencial pelos pobres que orienta historicamente a prática desses coletivos, onticamente
expressa nas demandas das populações atingidas pelo desastre-crime. Desde sua primeira edição em 2016, as
RATBRDs ocorrem a cada ano em uma paróquia de alguma das dioceses da Bacia do Rio Doce. Tendo em vista essa
circulação por diversos locais, é objetivo neste trabalho pensar a situcionalidade e as tensões que
envolveram o fazer romaria a partir da descrição e análise do planejamento, construção e viabilização do
percurso por onde passou a 5ª RATBRD, ocorrida em setembro de 2022 em Conceição do Mato Dentro (MG), Diocese
de Guanhães, e dos sentidos atribuídos para o caminho e os pontos de parada durante a caminhada. Conceição é
um município banhado pelo rio Santo Antônio afluente do Rio Doce, local de peregrinação transformado por
conflitos socioambientais desde a implantação do projeto minerário Minas-Rio da Anglo American, para onde
todos os anos se dirigem milhares de romeiros/as para um centro de devoção, o Santuário do Senhor Bom Jesus
do Matosinhos. Dito isso, através de uma análise do diário de campo, das conversas e discurso públicos e das
fotografias produzidas em campo dos momentos pré, intra- e pós-romaria, buscarei analisar como o espaço
conçeiçonese foi transformado para fazer o sagrado (sacra facere), produzir devoção e, ao mesmo tempo, uma
crítica social à mineração predatória. Interessa refletir: Como o caminho escolhido para a 5ª RATBRD fez a
romaria e vice-versa? Quais foram os agenciamentos materiais? Quais as materialidades e sentidos emergiram
durante a caminhada da concentração até o Santuário? Como o Senhor Bom Jesus do Matosinho, o rio Santo
Antônio, o contexto minerário local e seus conflitos foram motivos para a caminhada e sentidos da romaria?
Com isso, espera-se contribuir com o debate sobre a produção de memória e espaços sagrados que afetam os
fiéis e visitantes, ressignificam o espaço e reconfiguram as cidades; bem como refletir sobre as relações
entre religião e política.