ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 011: Antropologia da técnica
Movimentos saindo da água: transformações do sistema de abastecimento de água na Tekoa Vy’a
Bruna Cobelo Pinelli (UFSC)
Os povos indígenas compartilham um quadro de injustiça deflagrado pela privação do acesso a direitos humanos fundamentais. De maneira geral, no Brasil, as aldeias estão expostas ao consumo de água contaminada e a dejetos humanos sem tratamento. A respeito da situação das condições sanitárias dos indígenas em Santa Catarina, foi realizada coletas pela equipe do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI Litoral Sul) em 2023. Segundo o levantamento, apesar de 96% das aldeias Guaranis do Estado terem estruturas de captação e abastecimento de água, a maioria encontra-se em ruim ou péssimo estado de conservação. Este estudo etnográfico trata do saneamento básico e do acesso à água potável no território indígena Tekoa Vy’a, da etnia Mbya Guarani, localizada em Major Gercino/SC. A ineficiência do Estado em prover um direito básico destas populações evidenciou a necessidade da presença de organizações não governamentais para ajudar a solucionar problemas sanitários no território. A pesquisa inicia com a problemática da falta de água na Tekoa Vy’a, motivando a intervenção de ONG’s e de um projeto de extensão da Universidade Federal de Santa Catarina, denominado “Saneamento Ambiental em Aldeias Indígenas de Santa Catarina”, desenvolvido pelo NEAmb (CTC/UFSC). As análises deste estudo focaram as relações sociais a partir das águas, observando as ações da implementação de técnicas e tecnologias sanitárias que incluíam: a reconstrução do sistema de abastecimento, proteção de nascente fonte Caxambu, aqualuz® (sistema de desinfecção solar) e coleta de água. Além disso foram observados os conflitos durante a execução do projeto que destacam a necessidade de compreender os diferentes tipos de engenheiros presentes: o engenheiro popular e o técnico, e os impasses ocorridos durante a aplicação de técnicas sanitárias com os moradores indígenas. As estratégias metodológicas utilizadas foram a observação participante nas dinâmicas sociais, em vivências da realidade da Tekoa Vy'a e aplicação entrevistas, pesquisa bibliográfica e documental. Nestes quase dois anos em campo (desde março de 2022) observamos processos de operação e manipulação de técnicas e tecnologias sanitárias dentro deste território indígena, buscando a melhor abordagem para implementá-las. Destacamos a importância do entendimento prévio do local físico e relacional, da negociação entre usuário real e usuário-projeto e da compreensão dos modos de aprendizagem da comunidade.