Trabalho para SE - Simpósio Especial
SE 20: O que ameaça o presente e o futuro dos povos indígenas no Brasil?
Histórias, memórias e violências: um esboço sintético das violências anti-indígenas
Hoje discutimos o primeiro eixo como definido pela proposta do simpósio inspirado na formulação de dois autores indígenas: ““Qual é [...] o problema dos povos indígenas?“ Essa questão básica, por sua vez, se desdobrará em dois eixos, i.e., (1) a “violência não contingêncial” – físico-existencial, simbólica e emocional – exercida contra os povos indígenas;”
Desde a chegada da primeira flotilha de Pedro Álvares – em que se discutiu a necessidade ou não de sequestrar alguns naturais da terra – toda a história do Brasil se desenrola sob o signo da violência. Depois de “tomar posse” e de um início de “colonização” claudicante, para usar os termos portugueses, a conquista do que viria a ser o Brasil se desdobrou sempre num processo de expansão e coação dominial com uma dimensão constitutiva de uma “violência social total”. Inspirado em Mauss, este é o fato social total das histórias e memórias brasileiras e indígenas que intrinsecamente define seu caráter profundo e intemporal.
Ou seja, a violência supracitada abarca violências que atingem as pessoas em todas as suas dimensões, tanto pessoais quanto coletivas. Nesse sentido, constitui-se como um axioma de caráter geral e generalizador, mesmo que para cada caso singular a sua fenomenização exiba as particularidades que a sua abrangência dimensional abarca. A noção de uma história do Brasil e de uma história dos povos indígenas no Brasil é válida para os mais altos níveis de abstração; em contrapartida, na realidade, encontramos uma enorme quantidade de histórias do Brasil, memórias no Brasil e histórias dos povos indígenas no Brasil. Todas estas histórias e memórias contêm seus pontos de vista particulares, suas abstrações e reificações ontológicas e epistemológicas singulares e, diante desta complexidade inevitável e da necessidade premente e também inevitável de abstrair e analisar, a presente apresentação se propõe, muito resumidamente, a esboçar alguns traços sintéticos para divisar alguma unidade nesta imensa multiplicidade de histórias e, ao inverso, alguma multiplicidade nessa unidade.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
Associação Brasileira de Antropologia - ABA